I SÉRIE — NÚMERO 95
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Aplausos de Os Verdes e do PCP.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para uma intervenção, tem agora a palavra o Sr. Deputado
Renato Sampaio, do Partido Socialista.
O Sr. Renato Sampaio (PS): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: O PAN apresenta-nos uma iniciativa
legislativa que é, indiscutivelmente, da maior importância para o tratamento de um resíduo que tem bastante
perigosidade.
Contudo, esta iniciativa centra o tratamento da matéria mais na instalação de equipamentos de recolha por
parte de estabelecimentos comerciais, empresas e edifícios públicos, obrigando-os, até, a limpar a área
envolvente.
Além disso, esta iniciativa centra-se também na aplicação de coimas ao consumidor final, que, do nosso
ponto de vista, são elevadas, retirando praticamente ao produtor a responsabilidade por este resíduo. Em
relação ao produtor, o que é que faz? Limita-se a transferir para empresas licenciadas a recolha e o tratamento.
Há, portanto, uma confusão muito grande!
Para os cidadãos, a campanha a fazer é, fundamentalmente, de sensibilização — disto não tenho dúvidas!
—, mas, embora seja da maior importância a sensibilização dos cidadãos para esta matéria, a iniciativa não traz
praticamente mais nada a não ser mais uma coima.
Esta iniciativa é, do nosso ponto de vista, muito genérica, sem um aprofundamento normativo relevante, e só
as coimas têm, realmente, esse aprofundamento, exatamente para os estabelecimentos comerciais, para as
empresas, para os edifícios públicos.
Omite uma questão, do nosso ponto de vista, muito importante, que é a das autarquias locais. As autarquias
locais são a resposta e as responsáveis pela recolha e pelo tratamento de resíduos e, fundamentalmente, pela
limpeza urbana, havendo até autarquias que já têm regulamentos próprios sobre esta matéria, para evitar este
e outro tipo de resíduos, nomeadamente a Câmara de Lisboa e a Câmara de Leiria.
Além disso, omite completamente, ou praticamente, a existência de uma diretiva comunitária europeia sobre
os plásticos de uso único, que já foi adotada pelo Conselho Europeu, no dia 21, e que engloba exatamente os
produtos do tabaco com filtro. Esta diretiva vai ser transposta para o direito português e, do ponto de vista da
sua conceção, é muito mais ampla e fundamentalmente mais consequente para tornar eficaz o tratamento deste
tipo de resíduos.
Por isso, entendemos que esta iniciativa é avulsa e não tem em conta a diretiva comunitária — aliás, deve
ter sido só o título que chamou a atenção do PAN para esta matéria —, mas, de qualquer maneira, o Partido
Socialista não a vai inviabilizar e espera encontrar mecanismos para o seu melhoramento em sede de comissão.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem a palavra a Sr.ª Deputada Patrícia Fonseca, do CDS-PP,
para uma intervenção.
A Sr.ª Patrícia Fonseca (CDS-PP): — Sr. Presidente, o CDS reconhece à iniciativa o mérito de trazer a
debate um tema com um impacto não desprezível no ambiente.
Reconhecemos a importância da necessidade de sensibilização dos cidadãos para comportamentos cívicos
tão simples e óbvios como o de não deitar beatas para o chão e reconhecemos ainda que, para que tal aconteça,
é necessário que haja mais equipamentos para a recolha e a deposição dessas beatas.
Aliás, esta matéria, que tem sido debatida na União Europeia, culminou na diretiva de que falava o Sr.
Deputado Renato Sampaio. Esta diretiva foi publicada precisamente hoje e tem dois anos para ser transposta,
abrangendo muito mais temas para além do que estamos a debater hoje, que é o tema das beatas. Além disso,
não devemos desprezar o facto de haver um conjunto de autarquias que já têm regulamentos municipais sobre
esta e outras matérias.
Posto isto, e tendo em conta a relevância e o mérito que lhe reconhecemos, apesar de esta iniciativa propor,
no seu título, regular o destino a dar às pontas de cigarros, confesso que, à boa maneira totalitária, as únicas
coisas em que ela é clara são a proibição, a obrigação e a sanção.