I SÉRIE — NÚMERO 95
50
para todos os produtos de plástico. É por aí que temos de começar, é por aí que o Estado deve legislar e é aí
que toda a sociedade deve, de facto, fazer incidir as suas preocupações.
Isto significa que, por exemplo, são necessárias alternativas biodegradáveis. É necessário que os produtores
investiguem e invistam na produção de alternativas biodegradáveis, sendo igualmente necessário que o Estado
e os produtores invistam em medidas para a economia circular, de reutilização de desperdícios de forma
sustentável, havendo já propostas nesse sentido. Também nessa perspetiva, consideramos que a
responsabilidade dos produtores deve ser alargada. Aquilo que, neste momento, percebemos do projeto de lei
do PAN é que, nesta medida, há pouca clareza, é pouco concreto e, nalguns casos, é até ambíguo.
Assim, consideramos que este debate é importante, o Bloco compagina-se com essas preocupações, mas
também irá apresentar, em debate de especialidade, propostas concretas no sentido de melhorar e de focar
essencialmente os produtores e não os consumidores.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — A próxima intervenção é do Grupo Parlamentar do PSD.
Tem a palavra a Sr.ª Deputada Berta Cabral.
A Sr.ª Berta Cabral (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A defesa do ambiente é um desiderato
transversal à generalidade dos cidadãos e é, seguramente, também, um tema e um desiderato comuns a todos
os partidos políticos. Nessa matéria, o PSD tem provas dadas. Cada vez mais o mundo se vê ameaçado pela
acumulação de plásticos e de lixos nos oceanos, lixos, esses, que entram na cadeia alimentar e que causam
graves danos e graves problemas de saúde à humanidade.
Nesta categoria, encontramos as conhecidas beatas de cigarros, de cigarrilhas e de charutos, que, de acordo
com dados da União Europeia, são o segundo produto de plástico de utilização única mais encontrado nas
respetivas praias.
Nesse sentido, a matéria hoje em discussão merece toda a nossa atenção e revela enorme pertinência, pois,
segundo organizações não governamentais que se dedicam a esta temática — e isto já foi aqui referido —, a
cada minuto, 7000 pontas de cigarros são atiradas para o chão em Portugal. Reafirmo-o porque, efetivamente,
este é um número que tem de nos chocar a todos.
O ambiente não tem fronteiras, sobretudo fronteiras físicas, e uma beata atirada para o chão em Lisboa pode
causar a morte de inúmeros peixes em qualquer parte do globo.
Esta é, pois, uma iniciativa pertinente e sobre a qual valerá a pena a Assembleia da República trabalhar, sem
perder de vista a Diretiva 2018/0172, do Parlamento Europeu e do Conselho, sobre plásticos de utilização única
e resíduos pós-consumo de produtos de tabaco com filtros que contêm plástico, diretiva, essa, que, como sabem,
aguarda publicação e, também, regulamentação acessória.
Por outro lado, a nível autárquico, há um conjunto de regulamentos, de projetos e de iniciativas em curso,
muitos deles em parceria com várias entidades, que devem ser considerados, na medida em que poderão
contribuir para enriquecer o projeto de lei em causa. Dito de outra forma, o PSD comunga da importância da
matéria em causa e da relevância do seu tratamento, mas não dispensa um amplo debate na especialidade
sobre esta matéria.
Vozes do PSD: — Muito bem!
A Sr.ª Berta Cabral (PSD): — Sem embargo, subscrevendo a responsabilidade do poluidor, que deve, no
entanto, ser clarificada, entendemos que este é um compromisso que deve envolver toda a sociedade, pois
implica a continuidade da mudança de mentalidades já iniciada em Portugal com a Lei n.º 37/2007, de 14 de
agosto, que aprovou normas para a proteção dos cidadãos da exposição involuntária ao fumo do tabaco.
Para o PSD, a prevenção é a palavra-chave no âmbito da defesa do ambiente, que sempre prosseguimos e
iremos continuar a prosseguir. Não podemos, por isso, concordar que uma tão exaustiva fiscalização — e era
isto que queria referir —, a cargo de tantas e diferentes entidades, seja solução para este problema. Por isso
mesmo, esta é uma iniciativa que merece a nossa atenção, mas não dispensa a nossa regulamentação.
Aplausos do PSD.