I SÉRIE — NÚMERO 97
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O Bloco de Esquerda compreende a preocupação. Os trabalhadores qualificados e com funções dirigentes
no Estado ganham menos do que no privado e é, de facto, necessário que o Estado consiga manter os seus
profissionais mais qualificados. Mas esse é apenas um dos problemas que temos.
Há, no Estado, muitos trabalhadores qualificados que ganham pouco, tão pouco que a emigração tem sido
o caminho para muitos. Veja-se o que acontece com os enfermeiros, por exemplo. E há muitos trabalhadores
que, não tendo qualificações muito grandes, têm grandes responsabilidades e salários baixos demais. É o caso
das forças de segurança, por exemplo.
O problema salarial não é, pois, só entre os mais qualificados, mas também não é só entre os trabalhadores
do Estado.
No setor privado, em Portugal, a generalidade dos trabalhadores qualificados ganha muito pouco. O aumento
do salário mínimo — que, em boa hora, ficou no acordo que ambos subscrevemos há quatro anos — foi
generalizado, mas não é difícil encontrar engenheiros e arquitetos a ganhar bem abaixo dos 1000 €. Os salários
em Portugal são muito baixos.
O salário médio é cada vez mais próximo do salário mínimo e, por isso, hoje, queria falar-lhe dos
trabalhadores do privado.
Sr. Primeiro-Ministro, os trabalhadores merecem mais salário e mais segurança e só isso pode garantir, em
Portugal, um projeto de futuro, para que a emigração deixe de ser um destino forçado.
O primeiro passo pode ser dado já, sem esperar pelas eleições. Estão em votação, em sede de especialidade,
as alterações ao Código do Trabalho. Para valorizar o trabalho no setor privado é preciso acabar com a
caducidade unilateral dos contratos coletivos e repor o princípio do tratamento mais favorável, é preciso aprovar
as propostas do Bloco para que os trabalhadores do privado tenham o mesmo direito ao subsídio de alimentação
que os do público e acabar com a perversão, introduzida em 2012, de as horas extra serem mais baratas do
que as horas em período normal de trabalho.
Não espere pela próxima Legislatura, faça a lei do trabalho com a esquerda.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para responder, o Sr. Primeiro-Ministro.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada, como disse há pouco, não nos limitámos a aprovar
o roteiro para a neutralidade carbónica, aprovámos também o programa de ação para adaptação às alterações
climáticas, que tem um conjunto de medidas concretas devidamente programadas e com um quadro de
financiamento claro.
É isso que vamos fazer, tal como temos vindo a fazer. Não foi por acaso que, logo no início deste Governo,
atribuímos ao Ministério do Ambiente a competência em matéria de transportes urbanos e não foi por acaso
que, agora, alargámos a competência do Ministério do Ambiente para assumir também, pela primeira vez, a
área da energia. Estas são duas componentes fundamentais para a condução da política ambiental, mobilidade
e energia, e é por isso que estão no Ministério do Ambiente.
É essa trajetória que temos de prosseguir, com firmeza, compreendendo que a medida dos passes é uma
medida socialmente muito importante mas ambientalmente indispensável para termos um novo paradigma de
mobilidade.
Partilho consigo a visão de que os salários são uma questão-chave em Portugal e tenho dito, aliás, repetidas
vezes, que as empresas têm de compreender que, se querem ser competitivas a exportar, têm de começar por
ser competitivas a recrutar.
Não podemos continuar a ter um desnível salarial tão significativo relativamente a outras economias
europeias com quem concorremos, sob pena de, por mais que haja postos de trabalho a serem criados, por
melhores que sejam as condições de vida em Portugal, não deixarmos de sofrer uma sangria dos nossos
quadros.
Ao contrário daqueles que achavam que era uma boa solução para o País que houvesse essa emigração,
entendemos que é uma boa solução para o País atrair investimento e fixar os melhores recursos humanos que
temos para ajudar a desenvolver o País, ajudando mesmo aqueles que partiram e querem voltar a terem
melhores condições para poderem voltar.