I SÉRIE — NÚMERO 103
38
E o que também está aqui a discutir-se é se vai ou não ser honrada a palavra do Governo que os senhores
apoiam.
Por isso, ao fim de quatro anos, ao fim de aprovarem quatro Orçamentos, o Bloco de Esquerda e o PCP
queixam-se de quê?!
O Sr. António Filipe (PCP): — Agora, é o CDS que vota a favor!…
O Sr. António Carlos Monteiro (CDS-PP): — Na verdade, Sr.as e Srs. Deputados, Bloco de Esquerda e PCP
só se podem queixar de si próprios, porque são corresponsáveis por esta governação, são corresponsáveis por
este Governo existir.
Quanto à legislação laboral, parece-nos que os senhores não compreendem de todo o que é a concertação
social e, como sempre, estão contra a concertação social, estão contra a existência desses acordos, coisa que
nos distingue, claramente, das bancadas mais à esquerda.
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado José Soeiro.
O Sr. José Moura Soeiro (BE): — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Rita Rato, chamou a atenção para a
utilidade de, nesta fase, fazermos um alerta para que esta medida que, como aqui defendi, corre o risco de ser
inconstitucional, possa ainda ser anulada.
Estamos, agora, como sempre estivemos, abertos a encontrar todas as soluções que sejam favoráveis aos
trabalhadores e, portanto, a encontrar uma solução para expurgar da proposta esta e outras medidas, como a
do aumento dos contratos orais de muito curta duração. Aliás, negociámos com o Governo uma série de medidas
e foi o Governo que, quando foi negociar com os patrões, aceitou oferecer aos patrões uma série de
contrapartidas que trouxeram para esta proposta a assinatura das confederações patronais e também o apoio
do PSD e do CDS.
O que surpreende é que, em Portugal, que já teve um período experimental de 15 dias e tem agora um
período experimental de 90 dias para funções indiferenciadas, o que já é um exagero, alguém ache que o
problema de um País com tanta precariedade, que o problema de um País com tanto abuso no mundo do
trabalho é ter um período experimental de apenas três meses e que duplicá-lo para seis meses é uma solução
para o que quer que seja. Evidentemente, não é uma solução e faz muito mal o Partido Socialista em continuar
a manter essa proposta na lei que aqui estamos a discutir.
Sr. Deputado do Partido Ecologista «Os Verdes», de facto, o resultado desta discussão da legislação laboral
corre o risco de ser uma dupla desilusão. Uma desilusão, porque foram postas na lei estas normas de
precarização, que não existem na lei atual…
O Sr. António Carlos Monteiro (CDS-PP): — Ainda acaba a elogiar a lei atual!
O Sr. José Moura Soeiro (BE): — … e foram aqui colocadas agora pelo PS, pelo PSD e pelo CDS, como a
duplicação da duração do período experimental ou o alargamento dos contratos de muito curta duração; e uma
desilusão também pelo que permanece na lei e que vem do período da troica, porque quando foi cortado para
menos de metade o valor das compensações por despedimento, quando foi cortado para metade o valor da
compensação pelas horas extra, quando foi cortado o número de dias de férias, o Partido Socialista teve
posições críticas sobre essas medidas da troica, do PSD e do CDS. Neste momento, há uma aliança entre estes
três partidos para que a herança da troica, de medidas que foram apresentadas até como sendo medidas
excecionais, que eram requeridas por uma espécie de tempo de exceção que se estava a viver, se mantenha.
Essas medidas, ao serem confirmadas agora, nesta discussão, passarão a ser um adquirido do centro. Isso é
grave, particularmente quando, nesta Legislatura, tínhamos todas as condições para poder equilibrar uma lei
laboral que foi profundamente desequilibrada no período da austeridade e da troica.
O Sr. António Carlos Monteiro (CDS-PP): — Só se podem queixar de si próprios!