4 DE JULHO DE 2019
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A Sr.ª Joana Barata Lopes (PSD): — Mas que disparate!
O Sr. Diogo Leão (PS): — Como esta ideia era pouco crível, passaram para a tese de que o Governo estaria
implicado na operação de encobrimento levada a cabo ilegalmente pela Polícia Judiciária Militar. Nada mais
falso, como os factos vieram a comprovar.
Constituímos esta Comissão de Inquérito em outubro de 2018, uma Comissão proposta pelo CDS neste
mesmo Plenário.
O Partido Socialista, em nome do apuramento da verdade dos factos, votou a favor da constituição desta
Comissão. E daí resultou um trabalho sólido, independente e rigoroso, na análise de centenas de documentos
e dezenas de audições de individualidades.
O CDS reivindicava que o Parlamento devia apurar, e cito, «quem falhou nas medidas de segurança e por
que é que as medidas de segurança falharam». A Comissão apurou.
O CDS reivindicava a constituição de uma Comissão para que se alcançasse, e cito, «respostas sobre o que
falhou, por que é que falhou e por responsabilidade de quem». A Comissão apurou.
O CDS reivindicava uma Comissão que permitisse, e cito, uma «reflexão e avaliação sobre o funcionamento
do Ministério da Defesa Nacional, assim como das formas de articulação entre as Forças Armadas e as diversas
forças e serviços de segurança e órgãos de polícia criminal». A Comissão refletiu, produziu e aprovou um
conjunto de conclusões e recomendações nesse mesmo sentido.
Mas permitam-me citar o Grupo Parlamentar do CDS em dois outros trechos breves da exposição de motivos
da iniciativa que originou a constituição da Comissão.
O primeiro, e cito, diz o seguinte: «O Governo procurou, numa primeira fase, desvalorizar o sucedido, depois
alegou desconhecimento e, por fim, tentou precipitadamente encerrar o problema».
O segundo trecho refere: «As negações, omissões e contradições dos factos praticadas pelo Governo, ao
longo deste processo, foram constantes e sistemáticas».
A única coisa que esta Comissão de Inquérito não apurou foram estas autênticas conclusões preconcebidas
que o CDS e o PSD, antes sequer de constituída a Comissão de Inquérito, quiseram impor como facto
consumado e dado adquirido.
Aplausos do PS.
Mas a verdade é que, no Relatório, nas conclusões sobre as responsabilidades governativas, ficou apurado
e comprovado que não se verificou qualquer interferência política na ação do Exército ou na atividade da Polícia
Judiciária Militar relacionada com os acontecimentos de Tancos. O mesmo se apurou quanto à interação do
poder político com a justiça e com a investigação criminal, tendo sido inclusivamente uma estratégia de
investigação e opção consciente da justiça, a de não pedir ao Governo a abertura de ações disciplinares a
elementos militares ligados à operação de encobrimento da recuperação do material militar, permitindo o avanço
da operação Húbris. Foi integralmente respeitado pelo Governo o princípio de separação e interdependência de
poderes.
Sr. Presidente, a nossa última palavra é justamente para as Forças Armadas. O que aconteceu em Tancos
foi sem dúvida uma falha de enorme gravidade a nível da segurança do Estado, mas sabemos que o Exército e
as Forças Armadas no geral estão hoje, mais do que nunca, a trabalhar para a segurança das suas
infraestruturas. E não é um núcleo reduzido de militares com condutas desprestigiantes — outras certamente
irregulares e até mesmo ilegais e que estão, neste momento, ao abrigo da investigação e da justiça — que
diminui o prestígio de uma instituição multissecular como o Exército português.
Hoje, encerra-se um capítulo iniciado com a constituição da Comissão de Inquérito. Esperamos que se
encerre também uma certa vertigem para a «política de casos», patrocinada pelo PSD e CDS, e que, na sua
voracidade, não poupou sequer as nossas Forças Armadas.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Joana Barata Lopes (PSD): — Impressionante!…