20 DE JULHO DE 2019
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A Sr.ª Maria Manuel Rola (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Quero começar por saudar os
quase 20 000 peticionários que nos fizeram chegar aqui esta proposta.
Quero também valorizar a mobilização que tem vindo a ser feita por variadíssimas associações, que têm sido
as porta-vozes de pedidos de avanço no respeito por todos os animais e que fazem, já há décadas, o serviço
público de sensibilização para a necessidade de alteração da nossa relação com os animais.
Já em 2003, alguns dos subscritores desta Petição, nomeadamente Rita Silva e a Associação ANIMAL,
levantavam o véu e denunciavam os maus tratos a animais nos circos.
Em 2009, também elas participaram ativamente na configuração da legislação que, se tivesse sido
implementada consequentemente, poderia já ter levado ao fim do uso de animais selvagens no circo. Desde
essa altura, não é permitido adquirir novas crias ou animais ou, ainda, que aí nasçam novos animais.
Já em 2009, o Bloco de Esquerda, em estreita articulação com as associações e com as trabalhadoras do
circo, apresentou um projeto para que se acabasse com a utilização de animais selvagens e para que se
apoiasse essa transição nos circos. Já nessa altura, muitos dos circos entendiam ser necessário não permitir o
uso de animais selvagens e também a sociedade já pedia um outro tipo de tratamento para com os animais.
Também nessa altura, ainda não existia uma maioria nesta Assembleia para garantir uma posição mais firme
que assegurasse que não seria necessário voltarmos a discutir esta questão 10 anos mais tarde.
Hoje, discutimos esta petição que entrou na Assembleia antes do processo legislativo que fizemos este ano
e que levou à existência de uma legislação que, taxativamente, proíbe a utilização de animais selvagens nos
circos. Foram também estes 20 000 peticionários e as mobilizações pelo respeito animal que garantiram que,
finalmente, houvesse uma maioria para aprovar esta alteração. Mas esta maioria «chuta» para muito longe o
período transitório desta lei e, para além dos 10 anos que já aguardamos desde 2009, teremos de aguardar
ainda mais 6 anos para ver o fim da utilização de animais selvagens nos circos, o que é mais de metade do
tempo que já havia decorrido.
Esta legislação entrará em pleno vigor 16 anos depois — repito, 16 anos depois — de a Assembleia da
República e a sociedade terem decido que estaria na altura de pôr um ponto final na utilização de animais
selvagens em circos. Ora, 16 anos é tempo demais para uma adaptação e aí percebemos como a intervenção
social é necessária para garantir que existe aqui uma maioria e que essa maioria é cumprida, também, por cada
Governo.
Da nossa parte, podem contar com todos os esforços para antecipar e encurtar estes impasses. Aqui
estaremos para o trabalho que falta.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente: — Pelo Grupo Parlamentar do PCP, tem a palavra, para uma intervenção, a Sr.ª Deputada
Ângela Moreira.
A Sr.ª Ângela Moreira (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Cumprimento os subscritores da petição
em discussão, uma petição que trata de uma matéria que foi objeto de um processo legislativo, entretanto já
discutido e concluído na Assembleia da República.
Este processo legislativo, para o qual o PCP deu o seu contributo, de forma construtiva e séria, no sentido
do reforço do bem-estar animal, sem imposições e assegurando a possibilidade de reconversão da arte circense
para garantir a sua continuidade, teve um conjunto alargado de audições de várias entidades e associações. E,
sobre o bem-estar animal, importa recordar que o PCP foi o primeiro partido a acompanhar e a apresentar uma
iniciativa sobre esta matéria, afirmando sempre que não é com proibições, imediatismos e imposições que se
atinge o objetivo.
Na discussão e reflexão sobre os animais utilizados na atividade circense, propusemos que fosse criado um
programa nacional de entrega voluntária destes animais; propusemos que o Estado criasse uma linha de
incentivos financeiros para a reconversão dos espetáculos circenses, incluindo a reconversão dos trabalhadores
do circo de forma a desenvolverem a sua atividade noutras artes circenses; propusemos que o Estado criasse
centros de acolhimento de animais, tendo em conta as características e as necessidades de cada espécie;
propusemos o reforço de meios humanos para assegurar a fiscalização e o cumprimento da legislação referente
ao bem-estar animal; propusemos a criação de um cadastro nacional de animais de circo.