I SÉRIE — NÚMERO 33
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O Sr. Ministro das Infraestruturas e da Habitação: — Olhe para o Presidente da Câmara do Barreiro, que
está ali!
O Sr. José Luís Ferreira (PEV): — Aliás, a propósito do que o Governo quer fazer, ou seja, alterar a lei para
passar por cima dos pareceres do município, faz-me lembrar aquele cidadão que quer estacionar e tem um sinal
que o proíbe. Então, o que faz o cidadão? Tira o sinal do lugar, mete-o na mala do carro e já pode estacionar! É
isto que o Governo está a fazer: desrespeitar completamente as autarquias!
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, chegámos ao fim do debate sobre este ponto da agenda de hoje.
Vamos agora entrar no período das declarações políticas.
Para uma declaração política, tem a palavra a Sr.ª Deputada Inês de Sousa Real, do PAN.
A Sr.ª Inês de Sousa Real (PAN): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Dedicamos a nossa declaração
política de hoje a um tema que muito tem mobilizado a sociedade civil — a proteção animal —, sociedade civil
esta que não compreende um legislador que tem tardado em dar resposta eficaz a estas matérias.
A dignidade dos animais não humanos, designadamente o seu direito à vida e à integridade física, psicológica
e mental, é hoje um facto incontestável e tem vindo a ser reconhecida de forma transversal na sociedade,
passando pela comunidade científica, académica ou associativa.
Também à luz do quadro legal vigente, os animais já não são considerados «coisas», sendo hoje reconhecido
pelo nosso Código Civil que os animais são «seres vivos dotados de sensibilidade e objeto de proteção jurídica
em virtude da sua natureza».
Isto deveria implicar a criação de um quadro jurídico sólido e de políticas públicas devidamente adaptadas
às suas especificidades, em particular à necessidade de medidas vocacionadas para a sua proteção, ao invés
de permitir exceções incompreensíveis como a tauromaquia, as corridas de cães e de cavalos, o transporte de
animais vivos em condições absolutamente desumanas, entre muitos outros exemplos.
Mais: diariamente, surgem denúncias de maus-tratos e abandono de animais, e aqui não falamos apenas de
cães e gatos, mas também de outras espécies, como os cavalos, que vivem na maior indignidade, sujeitos a
maus- tratos, abandono, privação de comida, entre outros, à vista de todos e sem que nada seja feito. Mas se
para os animais de companhia existe hoje algum nível de proteção, no caso dos restantes animais a lei é
totalmente omissa, fazendo jus à velha máxima orwelliana.
Veja-se que já passaram mais de duas décadas desde que foi aprovada por esta Assembleia a Lei de
Proteção dos Animais, em 1995, pela mão do Deputado António Maria Pereira, que proíbe todas as violências
injustificadas contra todos os animais e não apenas alguns, e o que se verifica é que Portugal tem tardado em
dar resposta à proteção que lhes é devida.
Em sentido oposto, por exemplo, a nossa vizinha Espanha tem criminalizado, já desde aquele tempo, certas
práticas e comportamentos, existindo hoje a punição dos maus-tratos contra todos os animais e não apenas os
animais de companhia.
Volvidos também mais de cinco anos desde a entrada em vigor da Lei n.º 69/2014, que criminalizou os maus-
tratos e o abandono dos animais de companhia, importa revisitar este regime, seja com vista a colmatar as suas
lacunas, para reforçar a proteção dos animais de companhia, seja para o alargar aos demais animais.
As notícias recentes que deram nota do estado em que foram encontrados os cães do cavaleiro tauromáquico
João Moura vieram colocar novamente o foco nos crimes contra os animais de companhia, expondo a realidade
cruel a que muitos animais são sujeitos no nosso País perante a inércia das autoridades competentes, em
particular da Direção-Geral de Alimentação e Veterinária. Recorde-se que, no caso de João Moura, este
mantinha na sua quinta vários cães da raça Galgo com sinais evidentes de subnutrição. Os mesmos foram
apreendidos pelos órgãos de polícia criminal e encaminhados para associações de proteção animal, as únicas
que foram capazes de dar resposta a estes animais, sendo que dos 18 animais resgatados um não resistiu e
acabou mesmo por falecer. Foi o próprio veterinário municipal quem afirmou que, apesar de os animais
pertencerem a uma raça magra, aqueles em particular estavam abaixo de um peso aceitável.