I SÉRIE — NÚMERO 1
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negativamente, também podemos perceber que, se excecionarmos as variações conjunturais, rapidamente
chegamos à conclusão de que a maior parte das variáveis que condicionam o comportamento de Portugal são
de raiz estrutural e implicam, quase sempre, um comportamento negativo dos nossos padrões de
desenvolvimento.
Estrutura é território. Aliás, território é a maior das nossas estruturas e, se desequilibrado e não potenciado,
conduz a uma realidade de perda de recursos que se traduz na incapacidade de desenvolvimento pleno.
Nos últimos tempos, muito pela ação política, temos invertido a abordagem ao tema da gestão do território e
colocado, com isso, uma parte substancial do País, a que chamamos «interior» — e que o é, de facto —, pela
discrepância de níveis de competitividade, no centro das políticas.
A criação do Ministério da Coesão e, na sua dependência, da Secretaria de Estado da Valorização do Interior
tem permitido, desde o início da Legislatura, concertar ações e promover projetos de desenvolvimento integrado
em todo o território, como há muito não se sentia, não se via e não se fazia.
A Sr.ª Ana Paula Vitorino (PS): — Muito bem!
O Sr. Luís Moreira Testa (PS): — Mas também não é de somenos importância que se tenha construído uma agenda que coloca, por sistema, o combate aos desequilíbrios estruturais do País como o tema de ação — não
só porque isso beneficia apenas os territórios do interior, o que já não seria pouco, mas porque o
desenvolvimento harmonioso contribui decisivamente para o desenvolvimento global de Portugal, porque
aproveita recursos, aproveita capacidades, aproveita conhecimento.
Nos últimos tempos, nos últimos meses e nas últimas semanas, temos percebido, finalmente, a relevância
da centralidade de tal mudança de paradigma.
Decorreu esta semana, em Lisboa, o Fórum Parlamentar Luso-Espanhol, que, sem prejuízo de outras
temáticas, e mesmo com prejuízo de algumas, as relações transfronteiriças assumiram um papel na relação
entre os dois Estados, com a dimensão extraordinária que é dada a territórios, como, por exemplo, o do concelho
de Nisa, que, com a assunção da realização da ponte internacional que ligará ao município espanhol de Cedillo,
a pouco mais de 100 m, dispensará uma viagem de mais de 100 km.
Refiro também a apresentação do documento Visão Estratégica para o Plano de Recuperação Económica
de Portugal 2020/2030, elaborado pelo Prof. António Costa Silva, que assenta a maior parte dessa recuperação
no aproveitamento pleno dos nossos recursos, o que significa mobilizar os que nunca foram utilizados ou foram
parcamente tidos em conta, desde logo os do interior do País.
A cimeira ibérica que ocorrerá no dia 2 de outubro na Guarda, com as mesmas temáticas do Fórum
Parlamentar, dará ainda uma expressão maior a esta necessidade, com os dois Governos, o de Portugal e o de
Espanha, a concertarem políticas e investimentos para os territórios transfronteiriços que têm as mesmas
carências e são, eles próprios, uma grande oportunidade para os dois países.
O Sr. Santinho Pacheco (PS): — Muito bem!
O Sr. Luís Moreira Testa (PS): — A meio do mês de outubro, o Governo apresentará o Plano de Recuperação e Resiliência, documento que havemos de ter a oportunidade de debater e que, estamos certos,
merecerá também consensos, mais do que desejáveis, imperativos, para que Portugal possa ser um País
equilibrado, harmonioso e desenvolvido.
Aplausos do PS.
Estou certo de que este desígnio não é apenas meu ou do meu partido, estou certo de que este é um desígnio
nacional e que todos, todos, sem exceção, somos imprescindíveis para o concretizar.
O princípio da história já não pode ser alterado, mas podemos mudar o final e reinventar este Portugal.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — Sr. Deputado, inscreveram-se, para pedir esclarecimentos, seis Srs. Deputados.