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26 DE SETEMBRO DE 2020

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O Sr. André Ventura (CH): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: É preciso ter em conta que, efetivamente, o Sr. Presidente da República não poderia ter vetado as normas regimentais da Assembleia da República. Não o

poderia ter feito, numa lógica evidente de separação de poderes.

Mas, só no último ano, o Presidente da República falou sobre matérias conexas com esta, desde a

necessidade de acordos governamentais, como ainda ontem fez, passando pela necessidade de substituição

de ministros, à rotatividade dos ministros, ao tempo de encontro com o Primeiro-Ministro durante a semana.

Esteve a salvar pessoas na praia, a entrar pelas cidades para dar abraços e beijinhos, a andar em tratores,

carros e de bicicleta e a conseguir pronunciar-se sobre todos os assuntos. No meio disto, foi ao Programa da

Cristina e a vários programas matinais, cozinhou, jogou golfe e fez toda uma panóplia de situações agradáveis.

O que não fez, porque não podia, foi vetar o Regimento da Assembleia da República.

Como disse o Sr. Deputado Telmo Correia — e bem! —, quando a direita esperava pelo menos uma palavra

sobre isto, pela primeira vez, o Presidente da República disse: «Entendo que não me devo pronunciar sobre

essa matéria».

O Sr. Presidente: — Tem de terminar, Sr. Deputado.

O Sr. André Ventura (CH): — Vou terminar, Sr. Presidente, dizendo que a Assembleia da República não pode ficar em silêncio porque, pela primeira vez, um presidente da República ficou em silêncio sobre a

Assembleia.

O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado José Manuel Pureza, do Bloco de Esquerda.

Faça favor, Sr. Deputado.

O Sr. José Manuel Pureza (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Fez bem o Sr. Presidente da República em vetar a lei que PS e PSD aprovaram em julho, que aumenta de 4000 para 10 000 o número de

subscritores de uma petição para que ela seja discutida em Plenário. E fez bem o Sr. Presidente da República

em afirmar, na sua mensagem a esta Assembleia, que o seu veto decorreu de um imperativo de consciência

cívica e que a lei aprovada pelo bloco central é «um sinal negativo para a democracia».

Fez bem porque, sim, é um sinal muito negativo, que a consciência cívica dos democratas só pode repudiar,

o que PS e PSD sinalizaram com esta lei, que foi que a mobilização cívica que quer ter no Parlamento um

interlocutor é para eles um enfado, uma incomodidade.

Bem sabemos que esta obstaculização ao debate de petições em Plenário faz parte de uma reforma mais

vasta, acordada pelo bloco central para converter a Assembleia da República num conjunto de comissões

técnicas, esvaziando-a do seu papel insubstituível de lugar de debate político. Não esquecemos que esta

tentativa de dificultar o debate de petições em Plenário veio a par com a supressão dos debates quinzenais com

o Primeiro-Ministro e com a transferência para as comissões de outros momentos importantes de debate político,

retirando-o de onde ele deve ter lugar, que é nesta Sala grande da democracia.

Tudo isto são sinais negativos, tudo diminuição da intensidade da democracia parlamentar. E agora vem o

PS propor que não sejam 10 000 mas 7500 os subscritores exigidos para que o Plenário acolha obrigatoriamente

uma petição. O PSD tinha proposto 15 000, mas a coisa era escandalosa demais e, vai daí, lá acordaram em

10 000! E agora, depois da justa reprimenda presidencial, vêm ensaiar o «racha ao meio» dos mercados e feiras.

Não, Srs. Deputados do PS e do PSD, isto não é um leilão em que se não se arremata um obstáculo mais

alto, arremata-se um obstáculo um bocadinho mais baixo, porque o que interessa é que haja obstáculo.

Se o sinal que deram, em julho, à democracia foi negativo, este não o é menos. O que fica desta rábula triste

é o vosso enfado diante da vontade da gente que se mobiliza na expectativa de que o Parlamento debata os

seus problemas e as suas pretensões.

Vozes do BE: — Muito bem!

O Sr. José Manuel Pureza (BE): — Depois, hão de vir com a lengalenga da necessidade de aproximar eleitores e eleitos. Pela amostra junta, ainda hão de inventar uma outra rábula em que, diminuindo a