I SÉRIE — NÚMERO 10
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destas pessoas, que não conseguiram ainda encontrar um trabalho e uma fonte de rendimentos. Por isso, a
pergunta que se coloca é esta: o que é que podemos fazer por elas?
Faz sentido eliminar esta proteção das famílias agora e permitir que seja novamente possível o corte destes
bens essenciais? Na nossa opinião, não.
É um facto que a suspensão de cortes terminou, o Parlamento não a prorrogou e prevê-se que o processo
orçamental seja um impedimento para que haja qualquer sucesso na atividade parlamentar. Por isso, pergunto
ao Governo se, neste momento, tem a possibilidade de tomar uma decisão expedita e se o quer fazer. Dará o
Governo este passo urgente na proteção das famílias?
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem a palavra, para responder, o Sr. Primeiro-Ministro, António Costa.
Faça favor, Sr. Primeiro-Ministro.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Presidente, Sr. Deputado Pedro Filipe Soares, nas diferentes fases desta pandemia, que vai durar, seguramente, bastante tempo, temos respondido de acordo com as necessidades de
cada momento. As primeiras respostas foram, obviamente, as da emergência. Ninguém sabia se a epidemia
durava três meses ou seis meses, qual seria a capacidade das empresas de sustentarem os empregos, qual
seria a resistência das famílias para suportarem o impacto da perda de rendimentos e, portanto, foi necessário
tomar um conjunto de medidas na área da emergência.
Hoje, creio que, infelizmente, temos claro qual é o futuro. Seguramente, vamos ter uma pandemia ainda por
um longo tempo à nossa frente e, até lá, vamos viver enormes constrangimentos para enfrentar as crises
económica e social que ela trouxe.
Portanto, temos de nos focar numa estratégia que vá à raiz do problema e não se limite a lateralizá-lo. É
evidente que há situações onde as moratórias se impõem e situações onde, para assegurar liquidez, se impõe
a concessão de linhas de crédito, mas o que é absolutamente fundamental nesta fase, para irmos à raiz do
problema, é apoiar as empresas para proteger o emprego e apoiar as famílias no seu rendimento, sejam aquelas
que, estando a trabalhar, sofrem uma perda no seu rendimento porque estão em regime de layoff, sejam aquelas
que, perdendo o emprego, não podem perder o rendimento. Isto é absolutamente central, da mesma forma que,
mais do que linhas de crédito ou novas moratórias, temos de assegurar a capitalização das empresas para que
possam resistir a esta situação de crise.
Temos uma lei geral que protege todos em matéria de serviços essenciais, mas onde temos de nos focar é
mesmo no rendimento. É por isso que tenho a esperança de que no Orçamento do Estado para 2021
consigamos aprovar uma proposta, na qual temos vindo a trabalhar também com o Bloco de Esquerda, tendo
em vista a criação de uma prestação social nova que complemente as prestações sociais tradicionais e as
perdas de rendimento pelas mais diversas situações, de forma a assegurar que ninguém fica sem condições de
se poder sustentar e de sustentar os seus e a assegurar o acesso aos serviços essenciais. Esta deve ser a
prioridade, e tenho muita esperança de que o Orçamento de 2021 venha a ser aprovado na Assembleia da
República, permitindo criar essas condições.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Em nome do Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda, continua no uso da palavra o Sr. Deputado Pedro Filipe Soares.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, muito obrigado pela resposta, mas temos um problema que não pode esperar por janeiro do próximo ano e, por isso, não pode esperar por um
Orçamento do Estado que ainda tem de ser discutido na Assembleia. É que, no final do mês, estas famílias
podem ver efetuado o corte destes bens e serviços essenciais. Por isso, vou falar de questões da urgência dos
dias que correm e que merecem, também, uma resposta atempada e num curtíssimo prazo.