I SÉRIE — NÚMERO 10
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Finalmente, queremos assegurar um modelo de governação do acordo de saída que não elimine a
intervenção do papel do Tribunal de Justiça das Comunidades Europeias. O contacto entre as duas equipas
está a decorrer, mantemos total confiança no negociador europeu Michel Barnier e o mais importante é
mantermos a unidade dos 27 e um diálogo, a uma só voz, com o Reino Unido.
No que respeita à implementação do acordo de saída, partilhamos a preocupação suscitada por este
precedente de rutura com o respeito pelo direito internacional, que se traduziu na apresentação de uma lei sobre
o mercado interno que viola o acordo estabelecido entre o Reino Unido e a União Europeia. Apoiamos e
compreendemos, por isso, que a Comissão Europeia tenha lançado um processo de infração, porque o primado
do direito internacional tem de ser garantido e a primeira condição para a relação futura entre a União Europeia
e o Reino Unido é precisamente o respeito pelo direito internacional.
Independentemente do desfecho das negociações, temos de ir preparando cautelarmente um plano de
contingência para responder a uma situação de rutura, em que, no dia 1 de janeiro, tenhamos um Brexit sem
acordo, o que será particularmente exigente, porque será também o dia da estreia da Presidência portuguesa
da União Europeia. E, seguramente, aquilo que menos desejamos é iniciar a nossa Presidência com um
momento tão difícil nas relações da União Europeia com o Reino Unido.
O segundo ponto é relativo às alterações climáticas. Tal como no Conselho anterior centrámos a nossa
atenção sobre a transição digital, a transição climática é outro elemento-chave dos desafios futuros da União
Europeia. Portugal tem estado na linha da frente, com uma das agendas mais ambiciosas e com metas mais
ambiciosas, e acompanha com satisfação a proposta que a Comissão apresentou para aumentar o objetivo de
redução dos gases com efeito de estufa em 55%, por referência aos níveis de 1990.
Aplausos do PS.
Esta decisão constitui mais um passo certo em direção à neutralidade carbónica em 2050, tal como acordado
no Acordo de Paris.
Continuaremos, por isso, no Conselho Europeu, a apoiar a afetação de um terço das verbas europeias à
ação climática, a assegurar que o Fundo para a Transição Justa seja devidamente utilizado pelos países que
são os maiores beneficiários, com o seu compromisso quanto a metas que correspondam aos benefícios que
vão receber e também a mecanismos de promoção do financiamento sustentável.
Por fim, vamos ter um ponto da maior importância estratégica para o futuro da Europa, que são as relações
entre a União Europeia e o continente africano. O continente africano não é só aquele que nos é vizinho, é
também o continente com que mantemos uma relação mais intensa, a qual temos de aprofundar ao longo deste
século.
Estamos certos de que a Cimeira UE-África, em formato pleno, só se irá realizar em 2021, sem prejuízo da
cimeira em formato restrito com os diferentes países africanos, que terá lugar já no dia 9 de dezembro.
Esperemos que a evolução da pandemia não adie por mais tempo a realização plena desta Cimeira.
Para além disso, é absolutamente fundamental que a União Europeia e África aprofundem o seu
relacionamento, tendo em conta a criação da zona de comércio livre continental em África e o apoio político e
técnico que a União pode dispensar à União Africana para o desenvolvimento deste projeto, partilhando a
experiência de vários anos de uma zona de comércio livre na Europa.
Julgamos que chegou o momento de haver um reforço da arquitetura institucional da parceria, permitindo
garantir um melhor seguimento aos compromissos firmados, ao nível do chefe de Estado e do Governo.
Nesse sentido, além da zona de comércio livre continental, concordamos com a decisão da União Europeia
de apoiar uma candidatura nigeriana para a Direção-Geral da Organização Mundial do Comércio. Isto significa
claramente que, para nós, a relação entre a Europa e a África não deve ser fundada na gestão de fronteiras,
mas, pelo contrário, num programa comum para a prosperidade partilhada, que deve existir e deve dominar,
quer do lado de cá, quer do lado de lá do Mediterrâneo.
Aplausos do PS.