8 DE OUTUBRO DE 2020
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Peço desculpa, Sr. Presidente.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem, agora, a palavra, para uma intervenção em nome do Grupo Parlamentar do PCP, o Sr. Deputado Bruno Dias.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados: Na União Europeia, no processo de integração capitalista europeu, a abordagem às questões
ambientais é feita de modo a, sistematicamente, tentar pintar de verde o capitalismo, o que é, aliás, um bom
pretexto para o negócio de alguns.
É desde logo sintomática a tendência para isolar as alterações climáticas do conjunto das questões
ambientais, numa manobra que evidencia os objetivos de instrumentalização desta questão concreta. O PCP
tem um contributo objetivo neste debate e referimos quatro propostas concretas, quatro orientações, para atacar
o problema.
Primeira proposta: o fim do mercado do carbono e do comércio de licenças de emissão na União Europeia;
rejeitar o mercantilismo e optar por uma abordagem normativa, visando limitar as emissões e não as transformar
em bens transacionáveis ou em arma económica dos mais poderosos.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Muito bem!
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Segunda proposta: novas políticas agrícolas e comerciais, orientadas para a salvaguarda da soberania alimentar e para o apoio à produção local e às cadeias de abastecimento curtas, para
a complementaridade e não para a competição destrutiva entre produções, produtores e países.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Isso é que é verde!
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Terceira proposta: consolidação e aprofundamento das medidas tomadas no âmbito do passe social, tendo em vista, a prazo, a gratuitidade dos transportes públicos, avaliando e,
eventualmente, replicando experiências em curso noutros países.
Quarta proposta: controlo público do setor energético, rejeitando os monopólios privados da energia, pelo
funcionamento sustentável do setor, conjugando preocupações sociais e ambientais.
Dirá o Governo: «Mas isso é totalmente contraditório com as políticas da União Europeia!». E é verdade!
O Sr. Primeiro-Ministro: — Não é, não!
O Sr. Bruno Dias (PCP): — É por isso mesmo que dizemos que a ação em defesa do planeta e dos seus recursos, bem como a luta pelo direito ao desenvolvimento — dois objetivos que não são contraditórios, antes
complementares —, exigem um confronto com as políticas e orientações da União Europeia.
Relativamente à relação e à saída do Reino Unido da União Europeia, não se pode ignorar nem esquecer
que foi a vontade do povo britânico, expressa de forma soberana, no referendo em 2016.
O PCP manifestou, oportunamente, dúvidas, discordâncias e inquietações sobre os termos do Acordo de
Saída entre a União Europeia e o Reino Unido, face a insuficiências, debilidades e condicionalidades que não
respondem a legítimas aspirações e interesses do povo britânico, tentando, ao invés, impor opções para manter
aquele país vinculado a políticas da União Europeia.
Apesar disso, e de profundas contradições que se manifestaram e que continuam a marcar a situação social
e política no Reino Unido, sublinhamos esta questão essencial: a defesa dos interesses do povo português e da
comunidade portuguesa no Reino Unido não deve ser condicionada ou colocada em causa por imposições ou
constrangimentos da União Europeia, nomeadamente neste atual contexto, particularmente complexo, após a
assinatura dos acordos de saída.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!