I SÉRIE — NÚMERO 10
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O Sr. Bruno Dias (PCP): — Quanto à relação entre a União Europeia e África, os desafios que temos pela frente exigem um caminho não de imposição, não de rapina, não de «União Europeia-fortaleza», mas de
cooperação, de relações mutuamente vantajosas, de humanismo e solidariedade, de respeito pela soberania
dos povos e da sua independência, livre das amarras e dos instrumentos de dominação e condicionamento.
E aí estão as opções da União Europeia subjacentes aos acordos de livre-comércio ou aos acordos de
parceria com vários Estados africanos. Herdando os princípios coloniais dos acordos de Lomé e integrando-se
no Acordo de Cotonou, o que vemos são relações económicas desiguais, servindo as ambições das grandes
potências europeias. É imprescindível que se aprenda com as experiências trágicas em que resultaram as
políticas da União Europeia, desde logo com a Líbia, mas também com as questões dos fluxos migratórios, dos
problemas dos refugiados e requerentes de asilo e até dos negócios turcos nessa matéria.
Os povos da Europa e de África têm muitas aspirações e interesses idênticos. Neste combate pelo direito
dos povos ao desenvolvimento temos um longo caminho a percorrer — que seja em frente que vamos, então,
sem mais retrocessos nem saudosismos neocoloniais, e que seja esta a afirmação de Portugal neste debate do
Conselho Europeu.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — A próxima intervenção cabe ao Sr. Deputado João Almeida, do CDS-PP. Tem a palavra, Sr. Deputado.
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, Sr. Ministro, Srs. Secretários de Estado, Sr.as e Srs. Deputados: Em primeiro lugar, Sr. Primeiro-Ministro, perguntei-lhe, no último
debate que tivemos deste género, se iria defender, em nome de Portugal, no Conselho anterior, o instrumento
de apoio à solvência, porque entendia que esse era um instrumento muito importante para as empresas
portuguesas e porque era um instrumento apoiado pelo Parlamento Europeu, mas que, infelizmente, não tinha
maioria no Conselho para ser aprovado.
Volto a perguntar-lhe o óbvio e, se efetivamente Portugal o defendeu, se ainda há alguma possibilidade de
podermos lutar por este ou por outro instrumento idêntico, que permita às nossas empresas lutar contra um dos
seus principais problemas, que é ausência de capital?
Tenho ainda duas questões prévias à agenda do Conselho. A primeira é sobre o orçamento da União e a
posição do Parlamento Europeu em relação a este. Como sabe, há um impasse relativamente à questão do
Estado de direito, à questão do rule of law, em que o Parlamento Europeu — e bem — não abdica de querer
alterar o que ficou estabelecido pelo Conselho. Pergunto se está do lado, por exemplo, da líder do grupo
socialista no Parlamento Europeu, que defende que é fundamental alterar esta disposição, sendo mais exigente
nos critérios relativos ao Estado de direito para haver apoios aos países, ou se manterá, no Conselho, a posição
maioritária de avançar com aquilo que está, neste momento, aprovado.
O segundo ponto relativo a esta matéria prende-se com as subvenções e os empréstimos. O Sr. Primeiro-
Ministro anunciou que Portugal irá recorrer apenas à parte das subvenções.
Do ponto de vista dos princípios e no que respeita à intenção de não aumentarmos o endividamento público,
estamos de acordo, mas queríamos assegurar-nos de duas coisas. Primeiro, não sendo as subvenções a fundo
perdido, como normalmente é dito, elas também vão ter de ser pagas por impostos europeus, que vão ter de
ser criados. Pergunto se o Sr. Primeiro-Ministro já pode dizer-nos que impostos são esses e como e quando vão
cobrados, para podermos saber o que nos caberá dessa opção pelas subvenções. Segundo, queria perguntar
ao Sr. Primeiro-Ministro se pode garantir-nos que o equilíbrio orçamental dos próximos anos fará com que o
não-recurso a estes empréstimos europeus não implicará um recurso aos mercados para endividamento público,
o que sairia mais caro do que a opção de aproveitar os empréstimos europeus.
Depois, há ainda a questão do Brexit. É fundamental saber, a esta distância, qual é o plano B para que, no
dia 1, quando Portugal assumir a Presidência da União, se saiba o que a União vai fazer, não existindo um
acordo.
Por último, levanto uma questão muito clara sobre o Estado de direito, neste caso nas relações externas da
União. O que dissemos em relação à Bielorrússia, no último debate, dizemo-lo agora relativamente à Venezuela.