8 DE OUTUBRO DE 2020
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É verdade que o Alto Representante da União Europeia para os assuntos externos manteve conversações com
o Sr. Nicolás Maduro para tentar negociar uma eleição com observadores da União Europeia, tendo feito este
diálogo diretamente com o regime atualmente em vigor e sem falar com a oposição?
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Sr. Deputado, queira concluir, por favor.
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Vou terminar, Sr. Presidente. Isso significaria, em relação à Bielorrússia, fazer uma negociação exclusivamente com o Sr. Lukashenko,
sem falar com a oposição.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem de concluir, Sr. Deputado.
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Esta inversão de posição da União Europeia seria, para nós, totalmente inaceitável.
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — A próxima intervenção cabe ao Grupo Parlamentar do PAN. Tem a palavra o Sr. Deputado Nelson Silva.
O Sr. Nelson Basílio Silva (PAN): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Sr. Primeiro-Ministro: Portugal é o terceiro país da União Europeia que mais perdeu receita fiscal, em percentagem da sua economia, para
paraísos fiscais. Em 12 anos, perdemos 1% do nosso PIB, uma receita fundamental, por exemplo, para fazer
face à crise social ou para financiar os instrumentos de combate às alterações climáticas.
Num País que tanto perde para paraísos fiscais, o Governo, que tanto se queixa das quebras de receita
causadas pela COVID-19, não pode ficar simplesmente à espera que o Conselho Europeu ou a Comissão
avancem para a harmonização fiscal sozinhos. O Governo tem de ser proativo e de exigir ação no quadro da
União Europeia e, sobretudo, atuar internamente.
O que vai fazer o Governo quanto à recente decisão do Conselho da União de tirar as Ilhas Caimão da lista
de paraísos fiscais? É que estamos a falar de um paraíso fiscal que está metido nas negociatas da venda das
carteiras dos imóveis do Novo Banco e que, em 2020, foi considerado o paraíso fiscal menos transparente do
mundo, representando quase 5% de todas as operações fiscais fraudulentas ocorridas a nível global. Vai o
Governo dizer alguma coisa, no Conselho Europeu, sobre isto ou vai ficar impávido e sereno?
Mais: é sabido que, no seio da própria União Europeia, há países que são verdadeiros paraísos fiscais,
violando os mais básicos princípios do mercado interno. É o caso da Holanda, para onde o nosso País perde
236 milhões de euros por ano, e o caso de Malta, para onde, devido ao escândalo Malta Files, perdemos, em
dois anos, pelo menos 9 milhões de euros. O que está o Governo disponível para fazer para que o Conselho
debata, de forma séria, estes fenómenos de dumping fiscal que ocorrem na União Europeia e bater-se pela tão
propalada harmonização fiscal? Ou vai continuar impávido e sereno?
Por fim, sabemos que o nosso paraíso fiscal nacional, a Zona Franca da Madeira, custou, em três anos, 200
milhões de euros. Para o PAN, os paraísos fiscais não têm lugar numa democracia que se quer transparente,
sejam eles em Portugal ou fora dele. Por isso, demos entrada de uma iniciativa que propõe que o Governo leve
a cabo uma avaliação de custo-benefício abrangente do impacto económico, social e fiscal da Zona Franca da
Madeira.
Sr. Primeiro-Ministro, está disposto a fazer esta avaliação que o PAN propõe para que possa discutir-se
seriamente a questão da Zona Franca da Madeira ou quer deixar tudo como está e perpetuar esta situação
convidativa à ilicitude?
Aplausos do PAN.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — A próxima intervenção cabe à Sr.ª Deputada Mariana Silva, do Partido Ecologista «Os Verdes».