9 DE OUTUBRO DE 2020
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O Sr. José Luís Ferreira (PEV): — É falso!
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — É na concertação social entre empresas e trabalhadores que, ao contrário do que os senhores dizem…
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Sr.ª Deputada, queira concluir.
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Sr. Presidente, gostaria de concluir, mas também gostaria de ter as condições para isso.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Sr.ª Deputada, tem todas as condições para concluir. Faça favor, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Sr. Presidente, vou então concluir. É na concertação social entre empresas e trabalhadores — que os senhores insistem em pôr uns contra os
outros, mas que estão juntos a lutar para conseguirem vencer esta crise — que a solução para esta pergunta
tem de ser encontrada.
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — De seguida, tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado José Soeiro, do Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda.
Faça favor, Sr. Deputado.
O Sr. José Moura Soeiro (BE): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Nos últimos anos, aparentemente, tinha-se conseguido estabelecer um alargado consenso sobre a necessidade de aumentar o salário mínimo.
As teorias que a direita brandiu com catastrofismo quando se iniciou uma trajetória de aumento superior à
inflação, acordado à esquerda na anterior Legislatura, foram caindo por terra, e até estiveram durante algum
tempo hibernadas.
Não deixa, por isso, de ser um pouco surpreendente que o PSD tenha querido reabilitá-las hoje, de forma
tão estridente, vociferando contra o aumento dos salários e pela manutenção, sabe-se lá até quando, de
salários líquidos de 565 € por mês.
Na contramão dessas teorias falidas, a realidade encarregou-se de demonstrar, nos últimos anos, que
aumentar o salário mínimo cria emprego e não desemprego. Se já o sabemos, teria muito pouco sentido voltar
agora aos argumentos destruidores que sugerem que congelar o salário real é uma boia de salvação
económica em tempo de crise; ou que conter salários pode ser uma boa escolha de política económica; ou
que não aumentar salários pode constituir um incentivo às empresas para que criem emprego.
Nada disso é factual. Pelo contrário, aumentar o salário mínimo é das decisões mais sensatas que se
podem tomar para 2021. A primeira razão é porque esse aumento é uma questão de justiça e de combate à
pobreza, nomeadamente à pobreza assalariada, que tem tido em Portugal um peso estrutural que atinge 1 em
cada 10 trabalhadores.
A pobreza combate-se, certamente, com um sistema de proteção social que precisa de ser repensado e
que não pode deixar ninguém para trás, designadamente os desempregados, que são o grupo mais exposto à
pobreza. Por isto mesmo, propusemos já um rendimento social de cidadania que tenha como referência o
limiar de pobreza para todos os que perderam agora o seu emprego.
Mas a pobreza combate-se, em primeiríssimo lugar, com uma política económica para o pleno emprego e
que valorize os salários. Se a Assembleia da República declarou, em tempos, numa declaração solene, que a
pobreza era uma «violação dos direitos humanos», o que dizer da ofensa da realidade da pobreza
assalariada? O que dizer da realidade de trabalhadores que, mesmo trabalhando, mesmo tendo um emprego,
permanecem numa situação de pobreza?