23 DE OUTUBRO DE 2020
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Aplausos de Deputados do PSD, do PS e do BE.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, ainda no tempo do Grupo Parlamentar do PSD, tem a palavra o Sr. Deputado Paulo Moniz.
O Sr. Paulo Moniz (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Deu entrada nesta Assembleia uma petição pública com 95 287 subscritores que pedem que a despenalização da eutanásia, em Portugal, seja
decidida com um referendo.
Foi nesta Assembleia da República aprovado, na generalidade, com 128 votos a favor, 85 contra e 9
abstenções, entre outros diplomas de outros partidos sobre a mesma matéria, o diploma do Partido Socialista.
Este assunto não fazia parte do programa eleitoral posto a sufrágio e ao qual os portugueses deram uma
maioria relativa.
Apesar de já ser longa a discussão sobre este que é um assunto que diz respeito à consciência individual
na sociedade portuguesa, nunca antes tinha sido aprovada nesta Assembleia a questão do direito a morrer de
forma assistida. Pelo contrário, ainda nem passaram dois anos desde que foi chumbada neste Parlamento
uma iniciativa com o mesmo teor.
Todos nós somos Deputados eleitos pelo povo português e todos nós que aqui estamos representamos os
portugueses que, através do seu voto, nos conferiram a legitimidade e a responsabilidade de lhes dar voz.
Confiam que zelemos pelos seus interesses e que nos debatamos constantemente por legislar o que de
melhor pode servir aos vários setores e pilares da sociedade portuguesa.
Contudo, e não ferindo a inquestionável legitimidade da democracia representativa, presente nesta que é a
Casa da democracia, quando os cidadãos não concordam com o que fazemos, manifestam-se e mostram-nos,
também com toda a legitimidade, que o debate deve sair destas quatro paredes através da democracia
participativa e popular.
Foram 95 287 as pessoas que assinaram a petição que nos diz que o povo português também quer
debater e participar diretamente nesta discussão. Muito mal vai uma democracia onde se fecha uma matéria
desta importância e natureza dentro da Assembleia da República.
A sociedade dá sempre sinais e este, em particular, não pode e não deve ser ignorado.
Vozes do PSD: — Muito bem!
O Sr. Paulo Moniz (PSD): — Há uma grande diferença entre democracia e liberdade. A liberdade não deve ser apenas medida pela possibilidade de se poder votar, mas deve ser sobretudo medida pelo âmbito daquilo
sobre o qual não se vota e, neste caso, sobre a possibilidade de não se dar aos portugueses a hipótese de se
pronunciarem.
Votei esta questão como Deputado. Eu tive esse direito, o direito de me pronunciar, o direito de, em plena
liberdade de consciência, poder manifestar-me. O que defendo agora é que, tal como eu o tive, todos os
portugueses tenham a mesma exata oportunidade de manifestar a sua vontade, nesta que é a mais importante
questão de todas as questões.
Há algum receio de que isto aconteça? Do resultado? Se não, então qual é a questão?
Hoje, mais do que nunca, até pelas circunstâncias excecionais que vivemos no País, não devemos ignorar
o que a sociedade portuguesa nos quer dizer.
Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, concordar com um referendo não se trata de adiar decisões nem de
tirar a legitimidade que este Parlamento indiscutivelmente tem.
Não devemos temer a democracia na forma de participação popular!
Se as 95 000 pessoas que assinaram esta petição se juntassem em manifestação em frente à Assembleia
da República estaríamos perante uma manifestação muito difícil de ignorar.
Dadas as atuais circunstâncias, é desta forma, segura, através dos seus dados, do seu nome e da sua
assinatura, que estas pessoas podem manifestar a sua vontade. E a sua vontade, tal como a minha, e espero
que a de muitos Deputados nesta Câmara, é a de que este assunto seja referendado.
O que nos leva a todos a elogiar a participação popular noutras petições, fazê-las aprovar e achar que esta,
em particular, é uma forma de condicionamento deste Parlamento?