I SÉRIE — NÚMERO 18
18
A primeira questão que lhe queria colocar é esta: num momento em que se agravam todos os problemas
económicos e sociais e em que é preciso intervir para contrariar esse rumo, como pode o Governo continuar a
dar prioridade à redução do défice e não às necessidades do País e a um crescimento mais robusto da
economia e do emprego?
Vozes do PCP: — Muito bem!
O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Se esta é uma opção errada em quaisquer circunstâncias, torna-se particularmente grave e incompreensível na atual situação. Esta opção nega ao País cerca de 6000 milhões
de euros, que ficam a fazer falta na resposta aos problemas nacionais.
O debate na especialidade tem de ser feito em torno das reais soluções para o País, sem qualquer ilusão
de que possam ser outros critérios a determinar o caminho deste Orçamento. O PCP insistirá com propostas
para concretizar essas soluções. O Governo e o PS ficam com a responsabilidade de clarificar as opções que
querem fazer e as convergências com que as querem suportar.
Vão, Governo e PS, convergir com o PCP na valorização dos serviços públicos, em especial no reforço do
SNS contra o saque dos grupos económicos, na contratação e vinculação dos milhares de profissionais em
falta, na valorização dos seus direitos e carreiras?
O Sr. André Ventura (CH): — Vão, vão…!
O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Vão, Governo e PS, convergir com o PCP na valorização sem discriminações dos trabalhadores dos serviços essenciais, em setores como a saúde, as forças e serviços de
segurança, os bombeiros, os equipamentos sociais e outros?
Vão convergir com o PCP no reforço da proteção social, na valorização do subsídio de desemprego e na
resposta às jovens famílias e aos idosos, com a criação, já em 2021, em rede pública, de creches e lares?
Vão convergir com o PCP nas soluções que deem prioridade às micro, pequenas e médias empresas, em
vez dos grupos económicos, em defesa da atividade económica e dos postos de trabalho?
Vão convergir com o PCP por uma maior justiça fiscal, aliviando a tributação dos rendimentos mais baixos
e intermédios e taxando efetivamente os lucros dos grupos económicos?
Vai ou não o Governo intervir para pôr fim às PPP (parcerias público-privadas) e para que os setores
estratégicos não continuem à mercê dos interesses dos grupos monopolistas, seja nos CTT, na ANA-
Aeroportos, na TAP ou no Novo Banco?
As respostas a estas questões encerram alguns dos exemplos mais claros das opções que se impõem
para defender os interesses do povo e do País.
É perante essas opções concretas que o PS tem de clarificar se é com o PCP que vai convergir ou se são
outros os seus objetivos e outras as suas convergências.
Por nós, temos um compromisso, o compromisso com os trabalhadores que viram o seu salário cortado ou
congelado, com quem perdeu o emprego, com quem vê a falência da sua pequena empresa, com as pessoas
com deficiência, com os utentes do SNS, que veem adiadas as consultas e os exames, enquanto os
poderosos permanecem intocáveis nos seus lucros, dividendos e privilégios.
Assim, não, Sr. Primeiro-Ministro!
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Presidente, Sr. Deputado Jerónimo de Sousa, agradeço as suas questões. Comecemos pela questão política de fundo: com quem quer o Governo convergir? Já o disse várias vezes
e, infelizmente, umas vezes, quando o digo, dizem que é chantagem, outras vezes, quando não o digo, dizem
que crio a dúvida sobre se nos queremos ou não entender com a direita, fazer o bloco central, e todo esse
discurso. Já deixei claro, sem ser chantagem, que nós não queremos nenhum bloco central e temos, aliás,
uma vantagem, a de que nem o PS quer, nem o PSD quer nenhum bloco central. Aquilo que queremos é dar