5 DE DEZEMBRO DE 2020
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O que queria dizer sobre isto é que o direito à negociação coletiva tem de ser defendido e valorizado, não
apenas por ser um direito constitucional, que é, obviamente, uma questão fundamental, mas porque é algo
substantivamente importante para os trabalhadores e para as empresas.
Na nossa visão, o direito à negociação é, apesar de tudo, distinto do direito a um contrato em concreto, de
modo eternizado. Entendemos que a negociação coletiva para ser útil, valorizada e sustentável tem de se
conseguir atualizar, tem de ser adequada à realidade e tem de ter mecanismos que promovam a sua renovação.
Hoje em dia, é sabido que existe no Código do Trabalho o mecanismo da caducidade — essa possibilidade
existe —, que os prazos estão longe de ser imediatos e que o tratamento mais favorável existe num conjunto de
matérias muito amplas. Mas significa isto que a lei é perfeita, que não é passível de ser discutida, escrutinada e
alterada? Nesta matéria, como noutras, é evidente que o Governo tem de estar democraticamente disponível
para essa discussão e tem de estar disponível para ouvir não apenas os partidos, mas também os parceiros
sociais, que acompanham o mercado de trabalho e que têm, nessa matéria, uma responsabilidade muito
particular.
Portanto, para concluir, Sr. Presidente, aquilo que queria aqui dizer é que não temos uma visão fixista e
determinista nem dos contratos coletivos nem das leis que os enquadram. Por isso, qualquer lei, incluindo o
Código do Trabalho, está sujeita a discussão e a escrutínio. E, quanto às propostas que existirem, naturalmente,
temos abertura para as discutir, nesta sede, como em sede de concertação social, porque, como também é
sabido, defendemos que as matérias laborais têm de ter um acompanhamento muito próximo dos parceiros
sociais.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Srs. Deputados, a Mesa regista a inscrição do Sr. Deputado João Almeida, pelo que fará o favor de informar a razão da sua inscrição.
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — É para uma interpelação à Mesa sobre a condução dos trabalhos, Sr. Presidente.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Faça favor, Sr. Deputado.
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Sr. Presidente, nós vamos ser chamados a votar a proposta de lei que hoje foi aqui apresentada. Essa proposta de lei deu entrada no Parlamento com um documento de suporte
que tem dois gráficos da DGERT (Direção-Geral do Emprego e das Relações de Trabalho), os quais indicam a
evolução da contratação coletiva em Portugal nos últimos anos.
Protestos do PS.
Esses gráficos demonstram que, entre 2008 e 2011, a contratação coletiva diminuiu e, entre 2012 e 2015, a
contratação coletiva aumentou.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — E a interpelação é…
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Como o Sr. Secretário de Estado, que apresentou a proposta de lei, disse o contrário do que diz o documento que o Governo nos apresentou,…
O Sr. João Paulo Correia (PS): — Isso é uma intervenção!
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — … gostaria de saber se a Mesa nos pode informar se, para votarmos de forma conhecedora, devemos fazer fé no documento ou na palavra do Sr. Secretário de Estado.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Sr. Deputado, naturalmente, não vai querer que lhe responda em quem é que o Sr. Deputado deve fazer fé,…