5 DE DEZEMBRO DE 2020
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Por isso, a proposta que o Partido Socialista nos traz não tem nenhuma outra justificação e não pode
encontrá-la de forma alguma.
Já os projetos que os partidos mais à esquerda do PS trazem têm total justificação naquilo que é a sua visão
ideológica da sociedade e, em concreto, a sua visão ideológica do mercado de trabalho. Não tem problema por
ser ideológica, tem problema por aquilo que o ideológico representa, ou seja, um desequilíbrio total das relações
laborais e em relação ao diálogo social e, se for levado avante, um prejuízo absoluto dos trabalhadores.
Isto porque, esta visão sectária, esta visão antidemocrática das relações laborais, não tem outra
consequência que não seja prejudicar os próprios trabalhadores.
Portanto, aquilo que nós defendemos é uma oposição total a esta visão, que faz as delícias dos partidos mais
à esquerda e da ala mais à esquerda do Partido Socialista, deve também reconhecer-se isto, mas que vai ao
arrepio, por exemplo, do insuspeito ex-Ministro do Trabalho, Vieira da Silva, que, na reforma que fez do Código
do Trabalho, seguiu exatamente o caminho inverso àquilo que propõe agora o Governo.
Portanto, o que dizemos é que, se estas alterações fossem positivas, não tinham registado reservas, por
exemplo, nos pareceres de todos os parceiros sociais que conhecemos na Assembleia da República, à exceção
da CGTP (Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses), em relação à forma como este processo está
a ser feito.
E merece contradição aquilo que já aqui foi dito sobre a atuação do Governo PSD/CDS, porque o que
aconteceu na contratação coletiva foi uma redução quer em relação ao número de acordos, quer em relação
aos trabalhadores abrangidos, entre 2008 e 2012.
A Sr.ª Isabel Pires (BE): — 2014!
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Entre 2008 e 2012 são quatro anos, desses quatro anos o Partido Socialista governou três e o PSD e o CDS governaram um.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Sr. Deputado, queira concluir.
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Termino, Sr. Presidente. Por isso, esse enorme decréscimo na contratação coletiva deve-se a esse glorioso Governo de José
Sócrates, do Partido Socialista e a inversão desse ciclo deu-se, entre 2012 e 2015, durante o Governo PSD/CDS.
Risos do Secretário de Estado Adjunto do Trabalho e da Formação Profissional.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Sr. Deputado, queira terminar.
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Ó Sr. Ministro, o gráfico é seu, está a rir-se de si próprio e da figura que hoje aqui está a fazer.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Em nome do Grupo Parlamentar do Partido Socialista, tem a palavra o Sr. Deputado Tiago Barbosa Ribeiro.
O Sr. Tiago Barbosa Ribeiro (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: De uma forma geral, as propostas que hoje aqui debatemos incidem sobre uma problemática fundamental para o equilíbrio das relações
laborais que se relacionam com a contratação coletiva.
É uma matéria central em democracias maduras, democracias que valorizam o diálogo social, mas nunca
esquecendo, como fez agora na sua intervenção o Sr. Deputado João Almeida, que esta negociação incide
sobre uma mesa onde estão duas partes em condições desiguais, correspondendo o trabalho à parte e à
dimensão mais frágil de uma relação que tem de ser, por isso mesmo, regulada e protegida.
Durante os anos de má memória da governação da qual o Sr. Deputado João Almeida fez parte, o ataque à
contratação coletiva foi uma das formas de promover a desvalorização da proteção no trabalho e de
individualizar e enfraquecer as relações laborais.