5 DE DEZEMBRO DE 2020
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Por isso, opomo-nos à eliminação da caducidade da contratação coletiva e à eternização dos instrumentos
desta contratação.
Quanto à proposta do Governo, baseada numa alegada lacuna evidenciada pela pandemia, ficamos
perplexos. Atualmente, nos termos do Código do Trabalho, uma convenção coletiva de trabalho poderá, após
ser denunciada, vigorar ainda por um período que pode chegar a ser superior a quatro anos e é esse período
que o Governo quer, com a suspensão por 24 meses, aumentar.
Significa isto que o Governo antecipa que a situação excecional e temporária da COVID ainda vai durar mais
dois anos? Nada disto está devidamente justificado na proposta de lei cuja exposição de motivos fala em lacuna.
Pois a única lacuna aqui é a falta de justificação desta proposta e propostas sem justificação merecem o nosso
voto contra.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem agora a palavra a Sr.ª Deputada Emília Cerqueira, do PSD.
A Sr.ª Emília Cerqueira (PSD): — Sr. Presidente, srs. Deputados, Sr. Secretário de Estado: Nesta intervenção, quero fazer uma abordagem por dois pontos. Por um lado, refiro-me aos projetos de lei
apresentados pelo PCP, pelo Bloco e pelo PEV, que são mais do mesmo, revelando sempre a mesma
obstinação em manter e eternizar as convenções coletivas, independentemente das circunstâncias que se vivem
e que não permitem que a concertação social seja uma realidade. A situação das empresas, o mercado de
trabalho, tudo aquilo que são as conjunturas nacionais e internacionais, como iguais que são em sede de
concertação social, não permitem que se possa chegar aos melhores acordos de direitos dos trabalhadores.
Não podemos, também, deixar de dar a seguinte nota: sempre que ouvimos a extrema esquerda falar do fim
da contratação, fala em vazio. Ora, num Estado de direito não existem vazios legais.
Vozes do PSD: — Muito bem!
A Sr.ª Emília Cerqueira (PSD): — Existem o Código do Trabalho e a legislação laboral. Esse é um falso argumento que se ouviu ontem, que se ouve hoje,…
A Sr.ª Isabel Pires (BE): — É como os do PSD! Também são falsos argumentos!
A Sr.ª Emília Cerqueira (PSD): — … amanhã, todos os dias, e que se repete ad aeternum sem que corresponda à realidade, a não ser que se considere que todos os trabalhadores que estão abrangidos pelo
Código do Trabalho estão à margem da lei…
Vozes do PSD: — Exatamente!
A Sr.ª Emília Cerqueira (PSD): — Mas isso seria muito mais grave do que a contratação coletiva, que, aliás, o PSD defende. O PSD defende a contratação coletiva e a concertação social e defende que os parceiros sejam
ouvidos.
Dito isto, Sr. Secretário de Estado, falando da proposta de lei, apraz-me repetir palavras suas: «proteger a
contratação coletiva, defesa da negociação coletiva, diálogo social, estratégia para promover a concertação
social, negociação, situação excecional, resposta excecional».
Sr. Secretário de Estado, falando desta proposta de lei, o Governo comunicou à concertação social este
projeto. Diálogo com todos os parceiros? Zero! Aliás, já nos vem habituando a esta situação! Finge que dialoga
não dialogando e isto tem-se repetido, em sede de concertação social. Foi assim com o anterior Governo e é
assim com este, que é sempre o mesmo, como nós sabemos.
Vozes do PSD: — Muito bem!
A Sr.ª Emília Cerqueira (PSD): — Por isso, a pergunta que lhe deixo, desde já, é se vai começar a negociar na concertação social em vez de anunciar aqui palavras vãs que não têm qualquer adesão à realidade? É esta
a pergunta que gostava de lhe deixar.