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I SÉRIE — NÚMERO 27

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Isto porque, conforme o PAN tem afirmado repetidamente, os riscos de corrupção e de conflitos de interesses

no âmbito da gestão dos fundos europeus não só não desapareceram como são ainda maiores no contexto de

crise sanitária da COVID-19.

Tais riscos têm de nos preocupar e mobilizar a todos, uma vez que, como é sabido, o OLAF (Organismo

Europeu de Luta Antifraude), o organismo anticorrupção da União Europeia, afirmou já que 0,44% dos fundos

estruturais e de agricultura recebidos entre 2015 e 2019 deveriam ser recuperados pela Comissão Europeia

devido ao seu uso indevido e a irregularidades na sua utilização.

Esta percentagem significa que somos o terceiro país que mais perde em fundos europeus para as

irregularidades financeiras e isso tem de ser evitado a todo o custo, principalmente numa altura em que o ritmo

de investimento será duas a três vezes superior ao de anos anteriores, na ordem dos 6 mil milhões de euros por

ano, dinheiro que tanta falta nos vai fazer para a retoma económica do País.

Para o PAN, o caminho para o evitar tem de passar por impedir o aligeiramento acrítico dos mecanismos de

controlo, bem como pela criação de novos mecanismos de transparência e, acima de tudo, de participação

cidadã.

Tem sido esse o caminho que temos feito. Por isso, rejeitámos, com o nosso voto «contra», as recentes

alterações ao Código dos Contratos Públicos que, em nosso entender, aumentavam os riscos que apontamos.

Numa postura proativa, que procura a construção de pontes pela positiva no sentido de assegurar novos

mecanismos de participação cidadã, propusemos e conseguimos aprovar, em sede de Orçamento do Estado

para 2021, o aumento da transparência dos negócios do hidrogénio verde e a criação de um portal da

transparência para os fundos europeus que divulgue aos cidadãos, de forma clara, acessível e desagregada,

em tempo real, as medidas e os projetos apoiados, o seu custo orçamental, o número de beneficiários, as

entidades beneficiárias e os critérios de atribuição, assim como as diferentes fases processuais e o seu grau de

execução.

Conseguimos estes avanços em matéria de transparência, mas agora é tempo de o Parlamento assegurar

que este processo seja o mais participado possível e que, contrariamente ao habitual, não fique de costas

voltadas para o escrutínio da sociedade civil.

Para o assegurar, é essencial que, seguindo os bons exemplos recentes da convenção dos cidadãos pelo

clima, criada em França, ou da assembleia de cidadãos para a reforma do sistema democrático, na Alemanha,

se assegure a criação de uma comissão independente, composta por organizações representativas da

sociedade civil e por cidadãos independentes, sem ligações partidárias. A essa comissão caberá acompanhar

todas estas fases relativas aos fundos europeus que vão chegar em breve, esperando nós que auxilie, com os

seus contributos, a comissão parlamentar de acompanhamento para a fase de recuperação.

O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — A próxima intervenção cabe ao Sr. Deputado Bruno Dias, do PCP.

Faça favor, Sr. Deputado.

O Sr. Bruno Dias (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Desde a primeira hora que o PCP tem manifestado a exigência de uma política de gestão dos fundos estruturais e de investimento que assuma uma

gestão não apenas transparente, mas democrática, descentralizada, orientada para o desenvolvimento público

local e regional e não para uma gestão burocrática fechada, orientada para o financiamento de grandes

empresas e inacessível para agentes locais de desenvolvimento.

A resposta necessária para os problemas nacionais não é compatível com as escolhas que têm sido

expressas nas opções da União Europeia e dos fundos comunitários. A visão e as opções que os percorrem

não inscrevem a necessária valorização dos trabalhadores, dos seus salários e direitos, mas propõem a

manutenção de todos os instrumentos do neoliberalismo, iludem por completo os constrangimentos impostos

pela ausência de uma soberania monetária e por uma dívida pública que consome concursos públicos

indispensáveis, assumem o Estado como facilitador e financiador dos grupos económicos e ignoram o domínio,

pelo capital estrangeiro, de empresas e setores estratégicos.

O desenvolvimento do País exige opções soberanas não dependentes dos critérios e decisões de terceiros.

Precisa de uma agenda própria, que olhe para os problemas nacionais sem condicionamentos nem

constrangimentos, nomeadamente na utilização dos fundos comunitários, mas também exige uma aposta do