5 DE DEZEMBRO DE 2020
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A Sr.ª Maria Manuel Rola (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Sr.ª Secretária de Estado, esta pandemia tornou evidente a importância da habitação como pilar democrático e constitucional. Quem não tem
uma habitação com condições dignas está mais vulnerável à doença, não tem condições para fazer
confinamento, para fazer teletrabalho e muito menos para ter sucesso educativo ou para acompanhar os filhos.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Muito bem!
A Sr.ª Maria Manuel Rola (BE): — Percebemos que, no terrível oceano da pandemia, não estamos todos no mesmo barco.
Com a crise pandémica, ficaram também mais expostos os efeitos brutais da especulação imobiliária. O
Partido Socialista não pretendeu, e parece não pretender, contrariá-la, depois do desastre que foi a iniciativa da
direita neste âmbito.
A monocultura do turismo e a siamesa do imobiliário, o dumping fiscal e as benesses aos fundos imobiliários
e milionários que compram solo nacional para acederem a direitos de cidadania revelam, mais do que nunca,
uma aposta errada e, mais do que isso, uma aposta perversa.
Mesmo com a crise que vivemos agora, o valor do imobiliário, para compra ou para arrendamento, mantém-
se quase inalterado.
Sabemos, ao mesmo tempo, que em Portugal os rendimentos são os que mais descem na Europa. Os turistas
já não vêm e as cidades estão vazias, mas nem por isso o mercado se reconverteu para servir os que cá habitam.
Os trabalhadores mais pobres e precários, que são também os que não podem ser proprietários, estão, por isso,
mais dependentes do mercado de arrendamento e são também os mais penalizados. Entre estes, acima de
todos, os mais penalizados são as mulheres.
Para estas questões, o Governo não tem tido respostas à dimensão dos problemas que enfrentamos e das
disfuncionalidades gritantes do mercado. Nas políticas públicas e na ação do Governo, para responder a este
problema, tem imperado a inércia, seja na regulamentação da Lei de Bases da Habitação e da lei de combate
ao assédio imobiliário, seja na mobilização do edificado público e vazio ou, até, nas alterações à lei do
arrendamento.
Também devo dizer, confesso, que pensei que o agendamento do PSD fosse um ato de contrição. Imaginei
que a Deputada Filipa Roseta viesse solenemente pedir desculpa aos milhares de pessoas que foram
despejadas graças a essas normas inconstitucionais implementadas pelo Governo do PSD ou, ainda, pelo guião
da reforma do Estado que o seu partido apresentou quando era Governo.
Protestos da Deputada do PSD Filipa Roseta.
Pois nada disto tivemos oportunidade de ver. Mas o resultado está à vista: dezenas de milhares de pessoas
sem condições de acesso à habitação e, com a crise pandémica e a descida dos rendimentos, esta realidade
só tenderá a piorar. É neste sentido que a intervenção do Governo e das políticas públicas é decisiva.
A pergunta que se impõe, neste momento, é a seguinte: estão o Governo e o Partido Socialista dispostos a
prolongar as medidas em vigor para o ano de 2021?
Estamos no auge da crise pandémica e necessitamos de dar respostas às pessoas que, neste momento,
não sabem como responder aos problemas habitacionais que já no início de janeiro baterão à sua porta.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para pedir esclarecimentos, o Sr. Deputado Carlos Silva, do Grupo Parlamentar do PSD.
O Sr. Carlos Silva (PSD): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados, antes da pandemia, a habitação já era um dos principais problemas do quotidiano dos portugueses, com particular
impacto nas populações residentes nas áreas metropolitanas, associando a estes o problema da mobilidade,
das periferias e a falta de qualidade e de conservação dos imóveis.