I SÉRIE — NÚMERO 28
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O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Diz o povo que «não há duas sem três». Depois da Sr.ª Maria Manuel Rola e do Sr. Deputado Pedro Raposo do Carmo, tem a palavra o Sr. Deputado António Filipe Gaião,
do PCP, para uma intervenção.
Faça favor, Sr. Deputado.
O Sr. António Filipe (PCP): — Sr. Presidente, de facto, este é um dia dedicado à atividade cinegética, pelo menos tendo em conta o nome de vários Deputados intervenientes. Mas, enfim, isso só tem que ver com a
ligação que todos nós temos à natureza. Sendo o gaio uma ave de grande porte, imaginem o gaião!
Risos.
Mas devo dizer que não é o facto de me chamar «Gaião» que me habilita nem me dá nenhuma qualificação
especial relativamente à participação neste debate.
O que queríamos dizer é que não adotamos uma posição de proibicionismo relativamente à atividade
cinegética. Ela deve ser regulada, deve ter em conta a preservação das espécies e, aliás, fazemos a justiça de
pensar que são precisamente os caçadores os primeiros interessados na preservação das espécies cinegéticas.
Daí defendermos que haja uma regulação, porque há coisas que devem ser tanto mais apertadas quanto for
exigido pela preservação das espécies, mas consideramos que a atividade cinegética é um valor que deve ser
preservado, desde logo porque o País não pode abandonar o mundo rural, e a atividade cinegética é uma parte
integrante do mundo rural que não pode ser esquecida.
Portanto, não podemos lamentar o abandono do interior, lamentar o abandono das áreas florestais e das
áreas rurais e, depois, lamentar também as consequências que decorrem desse abandono e que, muitas vezes,
passam por calamitosos incêndios rurais. Em nome do desenvolvimento equilibrado do nosso País, há que
preservar esta atividade e, evidentemente, ela deve ser regulada.
As diversas iniciativas legislativas em discussão têm, de facto, um vezo proibicionista, e, em alguns casos, a
própria regulação existente já cobre o que é proposto por algumas das iniciativas legislativas, designadamente
para aquelas espécies que, já hoje, não podem ser objeto de caça e para aquelas que podem sê-lo apenas por
um período muito limitado de tempo, tendo em conta, precisamente, a necessidade de preservação das próprias
espécies.
A atividade cinegética de algumas espécies funciona, também, como defesa de outras espécies animais que
são vítimas da predação natural dessas espécies. Estamos a falar, por exemplo, do caso da caça à raposa, que
é uma forma de equilibrar a predação que esta faz, designadamente de aves de capoeira, de galinheiros e de
rebanhos. Obviamente, se não houver caça à raposa, há um desequilíbrio em prejuízo destas espécies que
também são essenciais para a preservação do mundo rural e para a subsistência económica de muitas famílias
que aí habitam.
Isto para dizer que não vamos acompanhar as iniciativas que foram hoje apresentadas, porque, de facto,
colocamo-nos numa posição diferente. Ou seja: sim à regulação da caça, sim a que o ICNF cumpra as suas
atribuições nessa matéria e que permita que as espécies sejam preservadas, mas que respeite uma atividade
que, do nosso ponto de vista, é respeitável e que também dá uma contribuição muito útil para aquilo que é
importante que seja preservado no nosso País.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para o encerramento deste ponto, tem a palavra a Sr.ª Deputada Inês de Sousa Real.
A Sr.ª Inês de Sousa Real (PAN): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O que estamos a discutir hoje não é, a este tempo, a abolição da atividade cinegética.
Portanto, não vale a pena as Sr.as e os Srs. Deputados virem desvirtuar o debate em torno daquilo que ele
é, pois o que queremos, por um lado, é a regulação das moratórias em relação a algumas espécies em concreto
e, por outro lado, é a proibição da venda de artefactos no nosso País relativamente a atividades absolutamente
ilegais.
Mas há um aspeto a que, inevitavelmente, não nos podemos furtar: o negacionismo presente neste debate,
o que, para nós, é absolutamente assustador, em que ouvimos expressões como «antiecossistema»,