I SÉRIE — NÚMERO 33
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Não é por acaso que cada vez mais profissões, de diferentes setores de atividade, têm pedido, através de
petições ou de outras formas, o reconhecimento da sua profissão como de desgaste rápido. Os ritmos de
trabalho têm-se acelerado, os horários de trabalho são cada vez mais longos, as condições de trabalho são
pioradas e não se tem em conta as condições extremas de determinadas profissões.
No caso específico que analisamos com esta petição e com este projeto, as características da organização
e desempenho do trabalho no setor dos transportes e comunicações têm um forte impacto na saúde dos
trabalhadores. Essas características passam por trabalho por turnos ou escalas, trabalho diurno, mas também
noturno, horários variáveis e tempo de trabalho prolongado, trabalho em subsolo, mas também em altura, com
longas permanências em veículos sujeitos a vibrações, sujeitos, também, a intempéries, sujeitos à pressão da
exposição pública, tarefas repetitivas e sobrecarga de trabalho.
Portanto, facilmente se verifica que estas condições de trabalho se manifestam, muitas vezes, através de
doenças músculo-esqueléticas, problemas renais, de audição, de visão, problemas de stress, ansiedade,
depressão ou sonolência diurna.
As conclusões que têm sido retiradas de um grande número de estudos científicos que relacionam o trabalho
por turnos e o trabalho noturno com problemas de saúde graves não são novos e devem alertar este Parlamento.
Aliás, não é por acaso que estes temas têm sido cada vez mais vezes levantados na Assembleia da República
— nomeadamente, problemas relacionados com profissões de desgaste rápido ou, também, projetos em
discussão, como o do Bloco de Esquerda na Comissão de Trabalho, muito relevantes, sobre a matéria do
trabalho por turnos.
Também não somos alheios ao que tem sido o debate nesta Assembleia sobre as profissões de desgaste
rápido, porque invariavelmente qualquer tentativa de propor que o Governo se debruce sobre uma determinada
profissão recebe o voto contra e invariavelmente todos os partidos se dizem muito preocupados com a situação,
mas inviabilizam as respostas de que os trabalhadores necessitam.
Houve, mais recentemente, a discussão de uma proposta do CDS para que se fizesse um grupo de trabalho
para a regulamentação legal das profissões de desgaste rápido, o que, no entanto — voltamos a repetir o que
dissemos, na altura —, é muito curto e objetivamente não responde às urgências vividas todos os dias por
demasiados trabalhadores e respetivas famílias.
O Governo, esse, diz que continua a estudar e a avaliar, mas os anos passam e dezenas de profissões e
milhares de trabalhadores mantêm-se sem qualquer resposta às suas pretensões e aos seus problemas de
saúde reais.
Por isso, consideramos que esta Casa não pode continuar a ignorar estas situações e deve tomar posições
mais concretas sobre o tema, sendo que, neste caso concreto, falamos dos trabalhadores do setor dos
transportes, comunicações e telecomunicações, que merecem também essa resposta.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Tem a palavra o Sr. Deputado José Luís Ferreira, do PEV, para uma intervenção.
O Sr. José Luís Ferreira (PEV): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Em primeiro lugar, em nome do Grupo Parlamentar do Partido Ecologista «Os Verdes», queria saudar os milhares de cidadãos que
subscreveram a petição que agora discutimos mas também a Federação dos Sindicatos de Transportes e
Comunicações, que a promoveu e dinamizou e que, através deste importante instrumento da nossa democracia,
nos traz um assunto da maior importância, sobretudo quando falamos de questões laborais.
Pretendem os peticionários que, face às circunstâncias que norteiam o exercício da sua atividade profissional,
seja instituído um regime especial da idade de reforma para os trabalhadores do setor dos transportes,
comunicações e telecomunicações aos 55 anos.
As circunstâncias ou as características da organização e do desempenho do seu trabalho estão bem claras
no texto que sustenta a referida petição. Na verdade, o desempenho do trabalho no setor dos transportes e
comunicações, como referem os peticionantes, tem um forte impacto na saúde dos trabalhadores, que se
manifesta através de doenças músculo-esqueléticas, problemas renais, problemas a nível da audição e da visão,
stress, ansiedade, depressão e sonolência diurna.