9 DE JANEIRO DE 2021
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Mais ou menos disfarçados; com falas mansas, mas também com discursos de ódio; na sombra, mas também
ao sol; com botas cardadas ou com pezinhos de lã, mas andam aí. E andam ativos e empenhados em procurar
ressuscitar o fascismo, o regime que oprimiu os portugueses durante quase meio século e que silenciou, que
perseguiu, que torturou, que semeou a fome e a miséria, que multiplicou a pobreza e que alimentou a guerra.
Para terminar, quero dizer que Os Verdes partilham integralmente as preocupações e o sentimento de
repúdio e de indignação mais do que justificada que nos é trazida pelos milhares de cidadãos que subscreveram
esta petição que agora discutimos e esperamos que a Constituição seja respeitada e, nesta matéria, que seja
integralmente respeitada e cumprida, porque o fascismo não se tolera, o fascismo combate-se.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Beatriz Gomes Dias, do Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda.
A Sr.ª Beatriz Gomes Dias (BE): — Muito obrigada, Sr.ª Presidente. Bom dia, Sr.as Deputadas e Srs. Deputados.
Quero saudar as quase 10 000 pessoas, na pessoa do primeiro peticionário, Jonathan Costa, que assinaram
a petição «Contra conferências neonazis em Portugal e pela ilegalização efetiva de grupos de cariz
fascista/racista/neonazi», destacando a importância e a pertinência desta petição.
A petição, inicialmente motivada pela realização, em Lisboa, de uma reunião organizada pela extrema-direita
europeia, alarga o seu âmbito e revela as tentativas de homicídio, as agressões, as ameaças a ativistas e
jornalistas, as publicações de conteúdos supremacistas, o discurso de ódio, o uso de símbolos de ideologia nazi,
o apelo ao armamento e outras tantas tentativas que pretendem banalizar a discriminação racial e reforçar a
fantasia supremacista branca, incitando ao ódio, à violência e à divisão na sociedade portuguesa.
O extremismo de direita representa uma das maiores ameaças à nossa democracia e à nossa segurança.
É tempo da defesa intransigente da igualdade e do combate urgente e determinado contra o discurso de ódio
e todas as formas de violência.
O que se passa em Portugal e no mundo mostra-nos a urgência deste compromisso e deste combate. Num
momento em que o discurso de ódio e a agenda racista e xenófoba da extrema-direita procuram impor-se no
nosso País, a negação e a inação não são uma opção.
A defesa da liberdade, da igualdade e da justiça não é uma conceção abstrata evocada exclusivamente nos
dias em que marchamos pela Avenida, lembrando Abril. Esta defesa inscreve-se numa prática quotidiana,
comprometida e intransigente.
Não podemos aceitar, e não vamos aceitar, a normalização do discurso de ódio e dos ataques cometidos por
estes grupos. Os atos racistas e xenófobos não podem ser confundidos com a liberdade de expressão. O ódio
não é uma opinião, é um crime. Representam não só uma inequívoca violação do princípio constitucional da
liberdade e uma ameaça explícita à democracia, como configuram um crime de discriminação e incitamento ao
ódio e à violência, previsto no artigo 240.º do Código Penal e punível com pena de prisão.
Sendo um crime, a lei deve ser cumprida. Compete ao Ministério Público investigar e à justiça punir. É, por
isso, imperativo que, para além da condenação política e social destes atos, os seus autores sejam identificados
e levados à justiça. Aos agentes políticos compete agir contra a normalização destes discursos, contra a
normalização destas práticas. Somos interpeladas e convocadas a defender inequivocamente a democracia da
ideologia fascista e a proteger todas as pessoas das perseguições, das intimidações e deste ódio que veicula
uma ideologia que ameaça, insulta e avilta.
Na Legislatura anterior, o Bloco de Esquerda apresentou um projeto de lei para a alteração do Código Penal,
de modo a melhorar os instrumentos de combate à discriminação racial, aprofundando o tratamento criminal e
penal nas suas formas mais gravosas. Contudo, esta proposta foi chumbada com os votos contra do PS, do
PSD e do CDS-PP.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Bem lembrado!