14 DE JANEIRO DE 2021
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Volto a repetir: a pandemia da pobreza agrava a pandemia sanitária. E é ali que é urgente uma intervenção
imediata e eficaz.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada não inscrita Cristina Rodrigues.
A Sr.ª Cristina Rodrigues (N insc.): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados:
Estamos a viver um agravamento generalizado do número de casos de COVID-19, tendo-se registado máximos
históricos de incidência cumulativa por 100 000 habitantes. O número de óbitos e hospitalizações está a
aumentar.
Os especialistas alertam para a possibilidade de se atingir os 14 000 casos por dia e que demorará cerca de
três semanas a reduzir este valor para os 7000 e mais três semanas para reduzir para 3500. O número de óbitos
poderá chegar aos 150.
O SNS está sob forte pressão. A ocupação dos cuidados intensivos está a aproximar-se do limite em vários
hospitais. Verifica-se o adiamento de cirurgias e exames. É cada vez maior a tensão a que estão sujeitos os
profissionais de saúde. Aumenta-se o número de camas, mas os profissionais são os mesmos. Os períodos de
repouso são escassos e, depois de tantos meses, os profissionais estão exaustos.
Este cenário justifica o confinamento geral e não votar favoravelmente a renovação do estado de emergência
é uma irresponsabilidade.
Todos estamos cansados das medidas restritivas, mas não temos alternativa. Precisamos de aliviar a
pressão que existe sobre o SNS e garantir que temos recursos humanos e materiais suficientes para dar
resposta às necessidades do País, tanto de doentes COVID como não COVID.
Esta situação demonstrou a importância de termos um Serviço Nacional de Saúde forte, de investir na
contratação e valorização de profissionais, na melhoria das infraestruturas e no reforço dos meios de
diagnóstico.
Neste âmbito, temos de mencionar a saúde mental como um setor que necessita de intervenção urgente.
Um estudo recente revelou que mais de um terço da população e quase metade dos profissionais de saúde
inquiridos manifestaram sinais de sofrimento psicológico, como ansiedade, depressão ou stress pós-traumático.
Portugal já é o segundo País da Europa com a mais elevada prevalência de doenças psiquiátricas. Por isso,
no contexto atual, a saúde mental não pode ser descurada e é fundamental que seja realizado um investimento
público sério nesta matéria.
Vivemos tempos difíceis, mas a verdade é que a situação pode piorar. Por isso, apelo aos portugueses que
não se deixem vencer pelo cansaço, que não baixem os braços, que continuem a cumprir as orientações da
DGS e as regras que vierem a ser implementadas.
Façamo-lo por nós e pelos outros, mantendo a esperança de que melhores dias virão.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra o Governo, através do Sr. Ministro da Administração Interna, Eduardo
Cabrita.
O Sr. Ministro da Administração Interna (Eduardo Cabrita): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados:
Estamos hoje a discutir o projeto de decreto, apresentado pelo Sr. Presidente da República, que estabelece um
novo período de estado de emergência para resposta à crise sanitária de COVID-19, para o período entre 15 e
30 janeiro.
Estamos a dar um passo mais no esforço, muito difícil, de mobilização da sociedade portuguesa, que temos
acompanhado na Assembleia da República com a adoção de novas fases de aplicação de um regime de estado
de emergência, desde o início de novembro, e que permitiram travar o aumento de contágios e o aumento de
casos, no período de novembro e de dezembro.
Estamos hoje confrontados com informação que há uma semana não existia e temos a visão plena da
evolução que acompanha a dimensão europeia da pandemia.
Por isso, o Governo emitiu um parecer favorável a este novo período de estado de emergência, marcado
pela adoção de medidas mais significativas de restrição dos contactos, nomeadamente pela mobilização de
mecanismos que permitem apoiar o Serviço Nacional Saúde neste combate, pela salvaguarda do princípio
fundamental da democracia de realização, com plenas condições sanitárias, das eleições presidenciais no