21 DE JANEIRO DE 2021
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A falta de professores, de educadores e de técnicos especializados na escola pública tem vindo a ser
sinalizada e vivida de uma forma particularmente intensa e preocupante em determinados grupos de
recrutamento de docentes.
Esta também é uma questão fundamental: face aos custos de vida, à permanente instabilidade e aos baixos
salários, a verdade é que muitos destes trabalhadores não podem, de facto, aceitar a colocação em horários
incompletos de escolas que ficam longe — muito longe, por vezes — das suas residências.
Efetivamente, este é um problema que não tem uma única origem. É um problema para o qual contribuem
múltiplos fatores, relacionados com a formação inicial, com o acesso à profissão e com a valorização da carreira,
num quadro de necessidade da criação de condições de atratividade para a profissão docente.
É uma urgência o rejuvenescimento da profissão e a supressão das carências que serão geradas, também,
pela aposentação de milhares de professores e de educadores a breve trecho, situação que está devidamente
identificada, inclusivamente pelo Conselho Nacional de Educação.
A questão que se coloca é a de dar uma resposta urgente às necessidades das escolas.
É por isso que o PCP apresenta um projeto de lei com um conjunto de medidas diversas para dar respostas
concretas, permitindo: o reforço do crédito horário, de acordo com as necessidades sinalizadas pelas escolas,
ou seja, de acordo com as suas reais necessidades; a possibilidade de preenchimento dos horários incompletos
sem necessidade de autorização superior; a fusão num só horário, até ao limite das 25 horas semanais, dos
horários de 5 horas que decorrem da aplicação da redução da componente letiva dos professores e dos
educadores em monodocência; a existência, por exemplo, de limites mínimos para a vigência dos horários
temporários, o que ajudaria à fixação de muitos professores nesta altura, passando os horários temporários a
ser celebrados com uma vigência mínima de três meses, ou 90 dias, sem necessidade de autorização superior
para o efeito; a existência de um complemento de alojamento para todos os docentes contratados e técnicos
especializados cuja escola de provimento esteja localizada a uma distância igual ou superior a 50 km da
residência habitual; um complemento de deslocação, também para esses professores e técnicos especializados,
nas mesmas condições.
São questões fundamentais que o PCP aqui traz, propostas que, naturalmente, estamos disponíveis para
trabalhar, em sede de especialidade, com o espírito construtivo e a necessidade de se encontrarem caminhos,
soluções e respostas para este problema, que não pode continuar a prolongar-se, estando o Ministério da
Educação a assobiar para o lado em relação a esta matéria, mesmo quando os Deputados interpelam o
Governo, em sede de Comissão, e questionam exatamente que medidas vai tomar quanto a isto. À falta delas,
cá está o PCP a dar voz aos anseios destes professores, destes técnicos especializados, encontrando uma
forma e construindo o caminho para valorizar a escola pública.
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — De seguida, dou a palavra à Sr.ª Deputada Gabriela Fonseca, do
PSD, para uma intervenção.
A Sr.ª Maria Gabriela Fonseca (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Hugo é um aluno que
frequenta o 12.º ano de escolaridade e que todos os dias se levanta cedo, bem cedo, para apanhar o transporte
escolar. Com ele leva toda a sua energia, o seu querer e o seu sonho de ser engenheiro. Desde setembro, ainda
não conseguiu conhecer os professores de Informática e de Inglês. Como vai ele aceder ao ensino superior sem
professores, sem internet, sem computador e ainda sem saber se vai ou não ter de realizar exames ou a que
disciplinas os terá de realizar? Esta é a escola dos Hugos deste País.
Ana, uma professora com quase 18 anos de serviço, foi colocada a 200 km de casa. Regista satisfação,
porque conseguiu ser colocada, mas os dias passam e a saudade, o cansaço e a desmotivação apoderam-se
dela. Teve de deixar a filha de 8 meses com o pai. Todas as semanas carrega a mala e o computador pessoal
para trabalhar. Têm de suportar as despesas de duas habitações e das deslocações semanais, colocando ainda
os seus em risco, em tempo de pandemia. Interroga-se frequentemente sobre porque o faz, pois daqui não
resulta qualquer compensação financeira. Será a isto que chamam «conciliação da vida pessoal, familiar e
profissional»? Esta é a escola da Ana, mas podia ser de qualquer outra.
Sr.as e Srs. Deputados, em abril de 2020, António Costa disse: «Assumimos um objetivo muito claro: vamos
iniciar o próximo ano letivo assegurando o acesso universal à rede e aos equipamentos para todos os alunos