I SÉRIE — NÚMERO 41
16
Esta suspeição é gravíssima e exige, obviamente, um esforço de transparência. Desse ponto de vista, é
preciso reconhecer que as iniciativas sobre a mesa têm essa preocupação e, portanto, procuram corresponder
a essa melhoria e a esse objetivo de maior transparência.
No entanto, como aqui também foi dito, e eu estou de acordo, levantam algumas dúvidas do ponto de vista
dos equilíbrios, designadamente do ponto de vista, desde logo, constitucional. Alguns dos pareceres que tive o
cuidado de ler também questionam se, no fundo, não vamos estar não a simplificar mas até a aumentar, ao
voltarmos a mais papel, alguma burocracia, o que também importa, obviamente, ter como reflexão.
Depois, Sr.as e Srs. Deputados, devo dizer-vos o seguinte: há uma dúvida que me pareceu — admito que
não seja partilhada, mas é a opinião com que fiquei — muito sustentável em relação a esta distribuição. Sabemos
que, hoje em dia, a forma de conseguir que seja mais aleatória é, obviamente, a forma eletrónica. Esta é a forma
mais neutra, onde há menos intervenção humana e que, se funcionar bem, é a que acaba por ser mais aleatória.
Quando o Conselho Superior da Magistratura nos diz que não «vislumbra» — usando a expressão do dito
parecer — «de que forma a colocação de um juiz, de um oficial de justiça, de um magistrado do Ministério
Público e de um advogado a examinarem um terminal informático é apta a garantir maior transparência», eu
diria, exagerando até o que é dito no parecer, que ao olharem para o terminal, provavelmente com os mesmos
olhos com que eu olharei… Enfim, garanto-vos que eu, ao olhar para um terminal informático, não adiantarei,
seguramente, coisa nenhuma, porque não tenho nenhum conhecimento ou especialização nessa área. Se
tivesse, seguramente, não era jurista.
Mas pergunto: como é que isto melhora? É muito duvidoso, de facto. Inclusivamente, a solução que parece
interessante é a que está na página seguinte: ter alguém que é efetivamente especializado que garanta uma
gestão e uma auditoria eficaz do mecanismo utilizado e do próprio algoritmo. Assim sim, com gente qualificada
nesta mesma área.
Portanto, diria que, sendo a intenção positiva e sendo compreensível — de resto, o PAN apresenta o que
costumo chamar um «projeto de artigo único», que, no fundo, é uma alínea do projeto do PSD —, repito, é
perfeitamente compreensível, quando a escolha seguida não é por este método, que haja uma fundamentação.
O que o PAN propõe parece-nos perfeitamente razoável, mas aplica-se só aos casos de escolha concreta e não
de sistema eletrónico e tal parece-nos razoável. Nos casos em que a escolha é manual, também o projeto poderá
adiantar alguma coisa.
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Sr. Deputado, chamo a sua atenção para o tempo.
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Estou mesmo a terminar, Sr. Presidente.
Para terminar, queria dizer que há aqui um equilíbrio e não inviabilizaremos as iniciativas. Chegando à
especialidade, veremos, se assim for, o que pode alterar-se, mas com muita dúvida de que seja uma panaceia
eficaz para o problema com que poderemos estar confrontados.
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Como não há inscrições, interpelo diretamente a Sr.ª Deputada
Mónica Quintela no sentido de intervir e poder completar o seu tempo, se assim o entender. Tem a palavra, Sr.ª
Deputada.
A Sr.ª Mónica Quintela (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Agradeço todos os contributos que
aqui foram dados e o PSD está absolutamente disponível, como é óbvio, para trabalharmos em conjunto, na
especialidade, estes projetos que nos parecem de primacial importância, pois está em causa o princípio do juiz
natural, o direito que cada um de nós tem a que o seu caso seja julgado e decidido por um juiz imparcial e neutro
e não por alguém que foi escolhido para decidir num determinado sentido.
Queria aqui chamar a atenção que os pareceres que foram proferidos, quer pela Ordem dos Advogados,
quer pelo Conselho Superior da Magistratura, quer pelo Conselho Superior do Ministério Público, quer pelo
Conselho dos Oficiais de Justiça, quer pela Ordem dos Solicitadores e Agentes de Execução, vão no sentido de
pugnar pela existência de mudanças. No entanto, o parecer do Conselho Superior da Magistratura,
compreensivelmente ou não, é evidente que pretende que se mude alguma coisa para que tudo fique na mesma,
como dizia Lampedusa, ou, melhor, não é bem para que tudo fique na mesma, querem ficar com gestão do
algoritmo e das auditorias, que é uma guerra antiga entre o IGFEJ (Instituto de Gestão Financeira e