I SÉRIE — NÚMERO 43
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significativo do número de freguesias, é bom que fique claro que, se aumentarmos significativamente o número
de freguesias, o que estamos a fazer é desinvestir na qualidade dos serviços públicos, pois estamos a gastar
mais com os eleitos e com as instituições do que estamos a gastar com os serviços. Portanto, gostava que me
explicassem isto de uma maneira muito cristalina.
Estamos a discutir projetos para elaborar uma lei-quadro de criação de freguesias que permita alguns
ajustamentos pontuais, quer ao que aconteceu em 2013, quer sobretudo ao que vai acontecendo, porque a
realidade, como é óbvio, não é estática e o território e as populações vão mudando, ou estamos aqui a discutir
projetos para duplicar, triplicar ou quadruplicar o número de freguesias e voltarmos à situação passada? É que,
se é para isso, sou radicalmente contra.
Em terceiro lugar, e não menos importante, estamos a correr o risco de transformar as eleições autárquicas
na pura e simples discussão do mapa autárquico e do mapa das freguesias. Por isso, pergunto se, aos discursos
piedosos que sempre ouço contra o populismo e contra o radicalismo, queremos juntar a prática e evitar ter
discussões destas em cima de eleições autárquicas. É que não há, de certeza absoluta, melhor incentivo ao
populismo e à demagogia do que estarmos a ter esta discussão em cima de eleições autárquicas.
Por último, gostava de lembrar o seguinte: a descentralização é um objetivo que todos partilhamos, mas é
um objetivo que foi adiado. É que teoricamente, este ano — de acordo com o anterior Governo do Partido
Socialista que dizia que esta era a grande reforma, em 2021 —, em janeiro deste ano, já teríamos, em velocidade
de cruzeiro, a descentralização de competências para todos os municípios. Ora, em vez disso, o que sabemos
é que, no que toca à saúde, à educação e à ação social, isso foi adiado para 2022. E, Sr.as e Srs. Deputados,
foi adiado porque é nessas competências que estão as verbas e mexer nessas competências implica mexer na
máquina do Estado central, e é exatamente isso que é sucessivamente adiado.
Sem discutir isso e sem ir a esse cerne da questão, acho que, em relação a todas as outras questões, temos,
naturalmente, abertura para mudanças pontuais, mas não temos abertura para reversões em massa de
legislação sobre freguesias.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para uma intervenção, tem a palavra, em nome do Grupo
Parlamentar do Partido Socialista, a Sr.ª Deputada Palmira Maciel.
A Sr.ª Palmira Maciel (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados:
Somos hoje chamados, neste debate, a dar mais um definitivo passo na correção de erros políticos de um
Governo de que, também por muitas outras razões, não temos saudades nenhumas.
Atrevo-me a afirmar que a famosa «Lei Relvas» ficará para sempre como paradigma do mau exemplo de
legislar contra o interesse das populações, afinal a razão primeira por que todos estamos aqui.
Desde logo, porque foi levada à prática sem que os cidadãos, através dos seus representantes, pudessem
ser consultados, sem que se pudessem pronunciar sobre um processo que, em muitos casos, implicou
diretamente com os interesses comuns e particulares de muitos portugueses.
Sr.as e Srs. Deputados, a minha condição de ex-autarca de freguesia e de município permite-me ver bem
claro a perda de identidade, a perda de governo de proximidade, a falta de representatividade, a redução da
participação cívica, o acréscimo de dificuldades ou a menor eficácia na gestão de recursos que o processo de
agregação de freguesias, num modelo de «régua e esquadro», acarretou.
Vozes do PS: — Muito bem!
A Sr.ª Palmira Maciel (PS): — Estou convicta — e os estudos entretanto conhecidos confirmam-no — de
que, ao contrário do que então preconizava o Governo PSD/CDS, que a apresentava como uma grande
«reforma», não se registaram ganhos de qualquer natureza.
As autarquias locais, designadamente as freguesias, são a primeira porta aberta para as populações. Prova
evidente disso mesmo é o trabalho que agora desenvolvem, neste contexto de pandemia, como primeira ajuda
aos concidadãos e em colaboração com outras entidades com responsabilidades diretas neste combate.
Vozes do PS: — Muito bem!