19 DE FEVEREIRO DE 2021
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Efetivamente, não foi assim. Quando se sobrepõem responsabilidades, obviamente que os problemas
também aparecem. Foi evidente, desde o início, que teletrabalho e apoio à família não só não são a mesma
coisa como não são conciliáveis na mesma pessoa. É impossível achar que, quem está em teletrabalho, pode,
ao mesmo tempo, prestar apoio à família. É impossível achar que, quem está numa call de trabalho, pode, ao
mesmo tempo, ajudar o seu filho ou a sua filha num trabalho, naquele momento em que obviamente não está
— e muitas das crianças não estão — com a autonomia suficiente para poder responder àquilo que o professor
ou a professora lhes pede.
E isso agrava-se naturalmente em famílias monoparentais, em famílias com várias crianças a cargo, em
famílias que têm em casa gente mais nova ou mais velha do que aqueles que são abrangidos pelo apoio à
família — e poucas vezes se fala disso. Em muitas destas famílias, as pessoas, além de estarem em teletrabalho
e terem filhos em idade escolar considerados para o apoio à família, têm filhos mais novos, muitas vezes recém-
nascidos, a quem também têm de dar apoio.
Depois, há também os filhos mais velhos que, apesar de já terem alguma autonomia, se estiverem em casa
com os irmãos, não é o mesmo que estarem em casa sozinhos.
Por isso, o CDS, desde sempre — desde o ano passado e já este ano —, suscitou esta questão, considerando
todas as alterações possíveis à lei para que se pudesse autonomizar estas duas matérias.
É pena que o Governo, mais uma vez, não responda à necessidade das famílias portuguesas. É pena que o
Governo, mais uma vez, não responda à necessidade das crianças portuguesas. É pena que, mais uma vez, o
Governo se preocupe mais com maiorias parlamentares do que com a vida das pessoas em concreto.
Não foi a vida de milhares de pessoas destas famílias que motivou o Governo a alterar aquele que é o regime
atual. O que levou o Governo a alterar o regime atual foi a possibilidade de aqui se formar uma maioria que
fizesse justiça às famílias portuguesas. Mais vale assim, mas é triste que um Governo, que devia ter outra
sensibilidade social, não tenha tido, por sua iniciativa, a capacidade para resolver este problema e vá por arrasto
de uma maioria parlamentar.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Queira concluir, Sr. Deputado.
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Mas, ainda assim, temos muito orgulho em fazer parte dessa
maioria parlamentar que obrigou o Governo a fazer justiça às famílias portuguesas.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Clara Marques
Mendes, do PSD.
A Sr.ª Clara Marques Mendes (PSD): — Sr. Presidente, Srs. Secretários de Estado, Srs. Deputados, neste
debate, começo por dizer ao Governo o seguinte: bem-vindo, finalmente, a debate! Um debate muito importante
para as famílias portuguesas, mas que o Governo constantemente se tem recusado a fazer.
Vou lembrar que, no final de janeiro, o Governo decidiu suspender as atividades letivas, na sequência do
aumento de surtos da COVID-19 e para evitar a transmissão do vírus e os contágios. Nessa sequência, o
Governo decidiu retomar o regime que vigorou em março de 2020, ou seja, para que os pais pudessem
acompanhar os seus filhos, o Governo retomou o regime do apoio à família.
Mas o Governo errou e voltou a errar com estas famílias, porque estavam mais do que identificadas as
dificuldades que as famílias tinham sentido em março, designadamente no que diz respeito a compatibilizar
aquilo que é o exercício das suas funções em regime de teletrabalho, que passou a ser obrigatório, e o
acompanhamento aos filhos. O que aconteceu foi que o Governo não teve sensibilidade para, apesar dos
constantes apelos, perceber que teletrabalho é trabalho e que o facto de as famílias estarem em teletrabalho
pode comprometer o acompanhamento aos filhos. Assim sendo, prejudica as duas vertentes: prejudica, desde
logo, o trabalho, nas questões de produtividade, mas, essencialmente, põe em causa o acompanhamento aos
filhos. Estamos a falar de direitos fundamentais, do direito ao acompanhamento das crianças.
Apesar de o Governo insistir em nada mudar, o PSD, ainda na semana passada, teve a oportunidade de, em
audição da Sr.ª Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, suscitar precisamente esta questão e
perguntar à Sr.ª Ministra se o Governo ia fazer alguma alteração, até porque já estavam em curso as apreciações
parlamentares.