12 DE MARÇO DE 2021
43
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Para uma intervenção, tem a palavra, o Sr. Deputado Luís Leite Ramos,
do Grupo Parlamentar do PSD.
O Sr. Luís Leite Ramos (PSD): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Quero, naturalmente, começar
por saudar os 13 888 peticionários que pedem ao Governo a completa requalificação e reabertura da Linha do
Douro entre Ermesinde e Barca D’Alva e a subsequente ligação a Salamanca. E, muito em particular, quero
saudar a Liga dos Amigos do Douro Património Mundial, em defesa de um projeto que é importante não só para
o Douro mas também para a região Norte e para o País.
Esta petição e os projetos de resolução que a acompanham têm motivações que são por demais conhecidas.
Algumas delas já foram aqui referidas, mas gostaria de relembrar o histórico recente relativamente a estas
razões.
Em 2017, a comunicação social deu conta de um estudo da Infraestruturas de Portugal que, nas suas
principais conclusões, apontava para três ideias essenciais: primeiro, desmistificava a alegada inadequação
técnica da via para a circulação de composições pesadas de mercadorias — esse era um argumento que,
durante décadas, tinha permitido à então REFER (Rede Ferroviária Nacional) justificar a não intervenção na via
e a sua inviabilidade relativamente à ligação à Europa.
Um segundo argumento tem a ver com a ligação natural e incontornável relativamente ao Porto de Leixões
e às plataformas logísticas que estão no seu entorno e que permitirão à região Norte e a uma parte do País a
ligação à Europa.
Um terceiro argumento tem a ver com o aproveitamento em matéria de desenvolvimento regional,
nomeadamente em termos de desenvolvimento turístico, com a ligação de quatro sítios classificados como
património mundial, a começar pelo Porto, passando por Guimarães e Douro e acabando em Coa.
Finalmente, um argumento de grande importância tem a ver com os 473 milhões de euros que estão previstos
para a sua reabilitação. Contas feitas, estes 473 milhões de euros custam menos do que quatro estações de
Metro em Lisboa ou no Porto e, portanto, trata-se de um argumento de peso.
Acresce que, em 2018, a União Europeia deu também conta de um outro estudo que mostrava que a ligação
transfronteiriça do Douro era um dos 48 projetos com maior potencial, em toda a Europa, dos 365 estudados,
para serem reabilitados para bem da rede ferroviária europeia, das dinâmicas de desenvolvimento regional e,
enfim, do próprio combate às alterações climáticas.
Ora, o que aconteceu desde então? O Governo, infelizmente, tem ignorado, sistematicamente, estes estudos
e as recomendações que lhes estão associadas. O Ministro Pedro Marques, de má memória, começou por
esconder e excluir esta ligação das apostas do PNI 2030 (Programa Nacional de Investimentos 2030). Depois,
já com a pressão deste Parlamento, esta proposta foi incluída no PNI, mas o que é verdade é que, ainda hoje,
esta ligação ou reabertura e requalificação não consta das prioridades do Programa Nacional de Investimentos
2030. Está lá para as calendas gregas, sem uma estimativa quanto à sua execução e, portanto, tem sido
esquecida, nomeadamente, das Infraestruturas de Portugal.
Não há dúvida nenhuma de que a direção atual da Infraestruturas de Portugal tem sido o maior obstáculo,
eu diria mesmo o maior inimigo da reabertura e da requalificação desta ligação ferroviária.
Aliás, nas apresentações recentes que têm sido feitas, temos notado, exatamente, esse desinteresse e esta
falta de compromisso que vão contra a própria manifestação de interesse que o Ministro das Infraestruturas e o
Governo têm, noutros momentos, assumido.
O PSD vai, naturalmente, viabilizar todos os projetos de resolução que estão hoje em discussão neste
Plenário e relembra que, mais do que garantir que esta vai ser uma prioridade, quer, sobretudo, três coisas:
acelerar o projeto de eletrificação entre o Marco de Canaveses e o Peso da Régua; que sejam lançados já os
concursos para a elaboração dos projetos entre a Régua e o Pocinho e entre o Pocinho e Barca d’Alva; e,
sobretudo, quer, da parte do Governo, um sinal político de vontade de negociar com o Governo espanhol e
aproveitar a disponibilidade da União Europeia para financiar este projeto.
Só assim poderemos acreditar que, entre o discurso oficial e a concretização do projeto, há, realmente, uma
simbiose perfeita, feita em nome do interesse do País e da região.
Aplausos do PSD.