I SÉRIE — NÚMERO 50
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Sublinhe-se que o Estado português tem obrigações na preservação da Linha do Douro e dos seus ramais,
decorrentes dos compromissos assumidos com a UNESCO.
A estratégia de agonia da Linha do Douro e a sentença de morte dos ramais foi premeditada, com o
argumento da falta de passageiros, que foram «chutados» para o transporte rodoviário, com mudança de
horários, avarias constantes, supressões de serviços. Mas, mesmo assim, existiam passageiros, até por
existirem aldeias e lugares que não tinham outra alternativa, como Alvações do Corgo. E não faltavam os
turistas! Mas o lóbi rodoviário falou mais alto.
Com esta iniciativa, Os Verdes querem garantir, no quadro do Plano Nacional Ferroviário: a modernização
da Linha do Douro até ao Pocinho e daí a Barca d’Alva; uma avaliação da segurança dos pilares da ponte
ferroviária na foz do rio Tua; a reabilitação e reabertura dos ramais das Linhas do Corgo e do Tâmega; a
avaliação da reativação do ramal do Sabor; uma solução para voltar a ligar Mirandela e Bragança pela ferrovia
à Linha do Douro; a aquisição do material de tração elétrica adequado à Linha do Douro e a reabertura da
ligação ferroviária internacional a Salamanca e a sua ligação ao centro da Europa.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Santinho Pacheco,
do Grupo Parlamentar do Partido Socialista.
O Sr. Santinho Pacheco (PS): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A Linha do Douro, Pocinho-Barca
d’Alva até Salamanca, mais do que uma teimosia bairrista duriense de Figueira de Castelo Rodrigo e Foz Côa,
é uma ambição regional que começou logo no dia seguinte ao seu encerramento, em 1987, num dos Governos
do Prof. Cavaco Silva, um século preciso após a sua inauguração.
Os 20 anos de abandono foram lembrados com um ambicioso programa, em Barca d’Alva, a 9 de dezembro
de 2007. Autarcas, políticos, académicos, os presidentes da CCDR-N (Comissão de Coordenação e
Desenvolvimento Regional do Norte) e da Diputación de Salamanca, falaram de história e turismo, de transportes
e desenvolvimento regional e saíram de Barca d’Alva, já não só com a ambição mas com a certeza de que a
reabertura do troço seria uma realidade. Passaram 14 anos e nada.
A Linha do Douro é internacional e a ligação fronteira/Salamanca é quase o triplo da distância de Barca d’Alva
ao Pocinho. O investimento do lado espanhol é bem maior do que o do lado português. A Espanha nunca criou
ilusões sobre este projeto, numa das regiões mais pobres e despovoadas de Castilla y León. O problema não é
bilateral, portanto, é exclusivamente português. Esta é a única conclusão realista que podemos tirar.
Miguel Cadilhe afirmava nesse encontro: «Não me peçam para justificar a Linha do Douro, Pocinho-Barca
d’Alva, pela economia.»
Eu atrevo-me a dizer precisamente o contrário. Todo o troço fica no distrito da Guarda, mas só uma pequena
parte se situa na CIM Beiras e Serra da Estrela (Comunidade Intermunicipal das Beiras e Serra da Estrela). A
CIM, na discussão pública do PRR, não refere a Linha do Douro nas suas prioridades.
Há anos que reivindicamos uma decisão do Governo e a inclusão do projeto nas agendas das cimeiras
ibéricas. Até agora, são 34 anos de silêncio.
Se tudo isto falha, não vamos esperar por «quando as galinhas tiverem dentes». O interior não tem mais
tempo para ilusões. Não pactuamos com um Estado que não faz nem deixa fazer. A Linha do Douro justifica-se
pela economia.
A ideia alternativa é encontrar parceiros regionais para o investimento e gestão do troço Pocinho-Barca
d’Alva, com outras componentes do turismo do Douro, com as autarquias e o Museu do Côa.
Saúdo os peticionários, a Liga dos Amigos do Douro e seus representantes, bem como os projetos de
resolução dos diversos partidos, que iremos acompanhar, neste Parlamento.
Estamos vivos! A iniciativa em política não basta, mas ajuda muito.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Isabel Lopes, do
Grupo Parlamentar do PSD.