12 DE MARÇO DE 2021
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O Sr. Nuno Fazenda (PS): — Estou a terminar, Sr.ª Presidente.
Por isso, acompanhamos os vários projetos de resolução aqui apresentados pelos diferentes partidos no
sentido da valorização do Douro nas várias frentes, na navegabilidade e, neste caso, da ferrovia e da valorização
da paisagem.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Concluímos este ponto da nossa ordem de trabalhos e passamos ao
ponto seguinte, que consiste na apreciação conjunta da Petição n.º 628/XIII/4.ª (Vítor Alexandre Lopes Pereira
Vicente e outros) — Solicitam a adoção de medidas contra as bases de dados da Autoridade Tributária
juntamente com, na generalidade, os Projetos de Lei n.os 655/XIV/2.ª (PCP) — Altera os procedimentos da
entrega do ficheiro SAF-T(PT) relativo à contabilidade (Primeira alteração ao Decreto-Lei n.º 48/2020, de 3 de
agosto) e 683/XIV/2.ª (CDS-PP) — Procede à revogação do big brother fiscal, revogando o Decreto-Lei n.º
48/2020, de 3 de agosto, e com o Projeto de Resolução n.º 886/XIV/2.ª (PCP) — Recomenda ao Governo que
altere os procedimentos da entrega do ficheiro SAF-T(PT) relativo à contabilidade.
Aproveito para saudar os peticionários que se encontram presentes nas galerias e dou, desde já, a palavra
ao Sr. Deputado Duarte Alves, do Grupo Parlamentar do PCP, para uma intervenção.
O Sr. Duarte Alves (PCP): — Sr.ª Presidente e Srs. Deputados: Em primeiro lugar, gostaríamos de saudar
os subscritores desta petição, que envolveu diversas estruturas e que recolheu mais de 11 000 assinaturas.
Ainda antes de esta petição ter sido lançada, já o PCP tinha apresentado uma apreciação parlamentar do
decreto-lei que instituía a obrigatoriedade de entrega do ficheiro SAF-T (standard audit file for tax purposes) da
contabilidade.
Nessa altura, o que o Governo pretendia — e que acabou por ser alterado na Assembleia da República,
também por iniciativa do PCP — era a entrega irrestrita deste ficheiro à Autoridade Tributária (AT) para todas
as micro e pequenas empresas, independentemente de sobre elas recaírem ou não indícios de fuga aos
impostos, justificada, na altura, com a simplificação do pré-preenchimento da IES (informação empresarial
simplificada).
Ora, desde cedo esta intenção de se entregar o ficheiro levantou dúvidas a diversas entidades, entre elas à
Comissão Nacional de Proteção de Dados. E porquê as preocupações? O que está, afinal, contido neste ficheiro
que se queria que fosse entregue totalmente à Autoridade Tributária? Informação sobre todos os movimentos
bancários da empresa; informação sobre relações comerciais entre sujeitos passivos, revelando políticas
comerciais, políticas de descontos, contactos de fornecedores e clientes, dívidas, chegando-se ao pormenor de
saber quem, dentro da empresa, alterou determinado campo e a que horas; contactos comerciais e informações
pessoais relativas a terceiros — e aqui o parecer da CNPD (Comissão Nacional de Proteção de Dados) coloca
especiais reservas quanto a informações particularmente sensíveis, como são as relativas à saúde, contidas em
faturas de consultas, cuidados médicos ou exames. Um manancial de informação muito para lá da necessária
para preencher a IES, e que passaria a estar concentrada numa só entidade, neste caso a AT.
Que fique clara a nossa posição: o ficheiro SAF-T deve existir e deve ser entregue à Autoridade Tributária
no quadro de um procedimento inspetivo, como instrumento para combate à fraude e evasão fiscal. Não deve é
ser entregue sem que haja qualquer indício de comportamento irregular, numa espécie de inspeção preventiva
e permanente, em que os sujeitos passivos autodeclaram a informação contida naquele ficheiro, mesmo que
não tenham disso consciência, sem quaisquer garantias do uso que depois lhe é dado.
Foi por isso que interviemos em 2019 para procurar limitar esta pretensão do Governo.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Exatamente!
O Sr. Duarte Alves (PCP): — O resultado dessa iniciativa não foi o que o PCP pretendia. Cada partido
responderá pelas opções que tomou na altura, incluindo mudanças à última hora, no entanto o que ficou nesse
diploma de 2019 já foi um avanço face ao que o Governo inicialmente pretendia.