18 DE MARÇO DE 2021
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Sinceramente, não acredito que, depois do brouhaha todo que tem suscitado este negócio, a Diretora-Geral
da AT não tenha mandado os seus serviços ver, dizendo, pelo menos, «vejam lá o que se passa com este
negócio», e que, neste momento, não esteja já a ver o que se passa.
Eu ficaria perplexo se o não estivesse a fazer, mas também lhe digo uma coisa: se o está a fazer, é normal
que o faça respeitando o sigilo próprio da atividade da AT, não tendo de informar disso, pelo menos, o
Primeiro-Ministro, e não sei se o Ministro das Finanças ou o Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais. Mas
ficaria surpreendido se, perante o brouhaha todo que tem existido, aliás totalmente compreensível, porque o
mínimo que se pode dizer é que toda essa construção é, no mínimo, criativa, tal não suscite, naturalmente, a
curiosidade de ir ver o que se passa. Não me passa sequer pela cabeça que a AT não esteja a fazer isso,
porque acho que é óbvio, pelas suas funções, que vá fazer isso.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — Continua no uso da palavra, o Sr. Deputado Rui Rio, do Grupo Parlamentar do PSD.
O Sr. Rui Rio (PSD): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, em relação ao que disse, há entre nós uma
diferença e uma concordância.
A diferença é que o Sr. Primeiro-Ministro é de formação jurídica e eu sou economista. Portanto, o Sr.
Primeiro-Ministro até poderá ter algumas dúvidas — como lhe tenho dito, muitas vezes os juristas existem para
complicar e não para simplificar —, mas eu, como economista, digo-lhe sinceramente: isto não faz sentido
rigorosamente nenhum, não tem lógica económica nenhuma!
Aplausos do PSD.
Andar a criar empresas com um funcionário para gerir um negócio que vale 2,2 mil milhões de euros não
faz sentido rigorosamente nenhum!
Aplausos do PSD.
A importância daquilo que está a ser feito e a ser averiguado deram-na também os Deputados de Trás-os-
Montes do PSD ao fazerem uma exposição à PGR (Procuradoria-Geral da República) para que esta veja o
que cada um fez e o que cada um está a fazer.
Relativamente à concordância entre nós, ela é clara: o Sr. Primeiro-Ministro não teve a coragem de o dizer
da forma como eu disse, mas fez uma censura clara e aberta ao Sr. Ministro do Ambiente, que interferiu
naquilo em que o Sr. Primeiro-Ministro acaba de dizer, e bem, que não deve interferir. É que quando o Sr.
Ministro do Ambiente ou, até, o Sr. Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, mas particularmente o Ministro
do Ambiente, vêm a público dizer que nada é devido, estão, obviamente, a pressionar a AT no sentido,
digamos, quase contrário àquele que é da sua obrigação, que é o de defender os cofres do Estado.
Portanto, sobre isso, acho que devo cumprimentá-lo pela censura que faz ao Ministro do Ambiente, embora
não tenha sido com o português que eu mais gostaria de ter ouvido.
Queria colocar-lhe uma outra questão sobre um tema diferente, que tem a ver com a TAP, mas que, ainda
assim, é um tema absolutamente vital para Portugal.
O Governo reverteu a privatização da TAP e, obviamente, esse foi um erro que estamos a pagar. Não por
causa da pandemia, que isso é diferente: em dezembro de 2019, a TAP já era uma empresa falida. Era uma
empresa falida no balanço, com capitais próprios negativos de 777 milhões de euros — penso eu que seria
mais do que isso, mas no balanço eram 777 milhões de euros —, para o qual contava um passivo superior a
5000 milhões de euros. Isso já assim era em dezembro de 2019.
O Governo decidiu meter 1,2 mil milhões de euros e decidiu, depois, no Orçamento subsequente, naquele
que está em vigor, avalizar mais 500 milhões, o que significa que voaram mais 500 milhões de euros para a
TAP — fala-se em cerca de 3,7 mil milhões de euros.
E é bom que todos pensemos nisto: a famosa «bazuca» — aquilo a que o Sr. Primeiro-Ministro chama de
«bazuca», ou seja, a, historicamente, grande quantidade de dinheiro da União Europeia para ajudar a