I SÉRIE — NÚMERO 51
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O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Presidente, Sr. Deputado Jerónimo de Sousa, creio que tem sido público o
esforço que o Governo tem vindo a fazer para responder à situação na Groundforce e, em particular, para
assegurar o pagamento dos salários em dívida aos trabalhadores.
Ontem mesmo, tive a oportunidade de, no Aeroporto Francisco Sá Carneiro, falar diretamente com um
grupo de representantes de trabalhadores da Groundforce sobre aquilo que estamos a fazer e que está em
cima da mesa para procurar responder a essa questão.
Não sei se sabe, mas neste último fim de semana, apresentámos uma proposta de aumento de capital que
permitisse assegurar, desde logo, o pagamento dos salários aos trabalhadores, mas com a garantia de que
esse reforço dos recursos financeiros da Groundforce tem como contrapartida o controlo da empresa e não
tem como contrapartida simplesmente a libertação dos atuais acionistas das obrigações que têm perante os
seus trabalhadores.
Relativamente ao desafio digital, esse é um tema crucial. A transição digital não pode significar a
virtualização e a desmaterialização dos direitos, pelo contrário, é necessário um novo direito do trabalho para
responder à sociedade digital.
É por isso que é um dos temas centrais do livro verde sobre as relações do trabalho, que brevemente
apresentaremos na concertação social, e, no âmbito da Presidência portuguesa da União Europeia,
convocámos como o principal evento da nossa Presidência a Cimeira Social, que terá lugar no próximo dia 7
de maio, no Porto, seguida do Conselho Informal sobre o Pilar Europeu dos Direitos Sociais, no dia 8 de maio,
no Porto, precisamente para discutir esta questão central de como é fundamental reforçar o pilar social e,
designadamente, os direitos dos trabalhadores no quadro das transições digital e climática.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — Muito obrigado, Sr. Primeiro-Ministro.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Vou já terminar, Sr. Presidente.
Os desafios são muitos mas não passam por travar as transições para o futuro, passam, sim, por se
garantir a transição para o futuro mantendo e desenvolvendo os direitos que, ao longo de várias décadas,
constituíram património comum dos trabalhadores, fazem parte do modelo social europeu e do nosso modelo
social e que temos de continuar a preservar e a reforçar, no futuro.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — Pelo Grupo Parlamentar do CDS-PP, tem a palavra o Sr. Deputado Telmo Correia, a
quem aproveito para felicitar pela reeleição.
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Muito obrigado, Sr. Presidente.
Sr. Primeiro-Ministro, permita-me que volte ao ponto primeiro da nossa ordem de trabalhos de hoje, que
consistiu na leitura de uma decisão do Tribunal Constitucional.
Sobre essa matéria, Sr. Ministro, gostaria de lhe perguntar o seguinte: o País, em janeiro e fevereiro, em
função da situação pandémica e do descontrolo que vivemos, bateu recordes no número de mortes. Não
tínhamos este número de mortes há 100 anos, designadamente desde a última grande pandemia da gripe
espanhola. O CDS, na altura, disse que nos parecia que fazer aprovar uma lei da eutanásia neste contexto era
uma má opção e era errado. Para além disso, dissemos que a lei era inconstitucional e o Tribunal
Constitucional veio agora declarar essa mesma lei inconstitucional.
O que lhe quero perguntar, Sr. Primeiro-Ministro — enquanto Primeiro-Ministro mas também sabendo que
está aqui o líder do Partido Socialista e lembrando até que, no passado, quando outra maioria, há dois
governos atrás, aprovou leis que foram declaradas inconstitucionais, foi dito naquela altura que era
desrespeitar a Constituição, que era um escândalo governar contra a Constituição —, é se este não seria o
momento de parar este processo, até de V. Ex.ª recomendar às opiniões mais radicais, a outros radicais que
possam apoiar esta ideia, suspendendo-o agora, parando para pensar ou, pelo menos, não o levando para a
frente sem que os portugueses sejam consultados. Sr. Primeiro-Ministro, é uma primeira nota.