I SÉRIE — NÚMERO 51
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Não desejo a ninguém que alguma vez tenha de enfrentar aquilo que temos enfrentado ao longo deste
último ano e quero, aliás, agradecer a todos a forma como, em conjunto, o temos feito, perante todas as
divergências que, sendo muitas ou poucas, existem. Isto, de facto, é uma prova muito grande a que o nosso
regime democrático tem estado sujeito. Temos vivido tempos imensos em estado de emergência e de exceção
constitucional sem que as liberdades fundamentais sejam postas em causa, sem que a liberdade de imprensa
seja posta em causa, sem que os direitos políticos sejam postos em causa. Já realizámos dois atos eleitorais
durante o conjunto destes estados de emergência, com a democracia a funcionar em pleno, e o Parlamento
nunca interrompeu as suas atividades. Acho que isto é absolutamente fundamental.
Mas, obviamente, esta é uma circunstância cuja gestão é caracterizada pela incerteza, e incerteza até onde
menos se espera. Aquilo que levou o Governo a suspender, por dois ou três dias, a administração da vacina
AstraZeneca foi o facto de, perante as dúvidas suscitadas, ser absolutamente essencial a confiança da
população nas vacinas que estão a receber e, para isso, ser importante esperar pela reavaliação da
Organização Mundial de Saúde, que, aliás, já estava a ser feita e cujos resultados publicou há pouco, dizendo
que sim, que a vacina é efetiva e segura, tal como pela reavaliação da EMA (European Medicines Agency),
que conheceremos, creio, na quinta-feira. Aguardemos, pois, o que vai dizer, porque isso é fundamental para a
tranquilidade de todos. Digo isto porque, como já disse, eu próprio já fui vacinado, já recebi a primeira dose da
vacina AstraZeneca e, portanto, percebo a preocupação de quem já foi vacinado com a qualidade da vacina e
também a de quem espera por ser vacinado, perante o impacto que possa ter o facto de não podermos contar
com essa vacina.
Mas a verdade é que todo o plano de vacinação tem decorrido, até agora, conforme o previsto. Já temos
várias das categorias da primeira fase cobertas a 100%, vamos manter o objetivo de 80% da população com
mais de 80 anos ser vacinada até ao final deste mês, mas já temos vacinados a 100% os doentes
hemodialisados e muitos dos setores fundamentais da nossa sociedade. Portanto, este é um processo que
está a correr e temos de prosseguir com ele, naturalmente, sujeitos aos ajustamentos que estas vicissitudes
vão provocar.
Dois ou três dias sem administrar vacinas vão, necessariamente, como já disse o Sr. Vice-Almirante
Gouveia e Melo, produzir alguns dias de atraso no plano de vacinação. Estava previsto que já no próximo fim
de semana se iniciasse a campanha de vacinação do pessoal docente e não docente das escolas e vamos ter
de a adiar uma semana, mas a verdade é que nunca em tão pouco tempo, como desta vez, a ciência
conseguiu criar uma vacina e a indústria conseguiu produzi-la, e ela está a ser distribuída e inoculada, pelo
que estamos a avançar.
O mesmo se diga relativamente àqueles que são os desafios económicos. Vimos de uma situação em que,
felizmente, a prudente gestão orçamental que fizemos, ao longo da última Legislatura, nos permitiu chegar ao
final de 2019 com um excedente orçamental e, designadamente, a nível dos resultados da criação de
emprego, reforçar a sustentabilidade da segurança social. A segurança social ganhou 22 anos de solidez ao
longo da última Legislatura e foi isso que nos permitiu ter «músculo» para, já no ano passado, termos tido a
capacidade de resposta que tivemos.
Todos nos recordamos de que o grande debate do Orçamento do Estado para 2020 era sobre se íamos ou
não ter um grande excedente orçamental em 2020. Felizmente, tivemo-lo em 2019, porque, em 2020, tivemos
mesmo um dos maiores défices, senão o maior, das últimas décadas.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Isso só desmerece o critério!
O Sr. Primeiro-Ministro: — Desculpe, não percebi o que disse…
O Sr. João Oliveira (PCP): — Só desmerece o critério!
O Sr. Primeiro-Ministro: — Só desmerece o critério, exatamente!
Essa capacidade orçamental foi da maior importância, assim como foi da maior importância o conjunto de
medidas que a União Europeia tomou desta vez, ao contrário do que havia acontecido na crise anterior, que
permitiu controlar os mercados, que nos permitiu libertar do espartilho do pacto de estabilidade, que permitiu
criar n linhas de financiamento, designadamente para o apoio ao emprego.