I SÉRIE — NÚMERO 51
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O esboço do programa português é aquele que, entre todos os planos nacionais já apresentados, tem
maior peso de apoio direto às empresas. Na verdade, em Portugal, o valor dos apoios diretos às empresas, no
esboço do PRR, corresponde basicamente aos mesmos montantes que, nos sistemas de incentivos às
empresas, no PT2020, tivemos durante todo o período de 2014 até 2023. Isto dá-nos bem a noção não
apenas do apoio, mas também do esforço de investimento que as empresas vão ter de fazer para
corresponder a estas solicitações, porque, como sabe, o investimento privado é apoiado, mas precisa também
que fundos privados sejam postos ao lado. Portanto, queria deixar esta primeira nota que nos dá a noção das
comparações.
Mas, além deste apoio ao investimento privado, que vai permitir apoiar a descarbonização da nossa
indústria e a digitalização das nossas pequenas e médias empresas, e que vai permitir às empresas e ao
sistema científico e tecnológico apostar na industrialização e na produção de bens inovadores dirigidos ao
mercado, queria também salientar a importância do investimento público. Nós vamos conseguir, com o esforço
de investimento que fazemos, contribuir, por exemplo, para a concretização da meta de ter, em 2031, uma
redução de 55% dos gases com efeitos de estufa, relativamente a 2005.
A Sr.ª Ana Catarina Mendonça Mendes (PS): — Muito bem!
O Sr. Ministro de Estado, da Economia e da Transição Digital: — Não conseguiremos fazê-lo se não
investirmos nos nossos sistemas de transporte, se não investirmos na eficiência energética nos edifícios. Isto é
absolutamente indispensável, mas, mesmo aí, há oportunidades muito importantes para as empresas
portuguesas. Ao responderem às solicitações, como, por exemplo, na construção da habitação, na eficiência
energética dos edifícios privados, serão as empresas portuguesas a posicionar-se para este grande esforço de
investimento.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Ainda para responder, tem a palavra a Sr.ª Ministra de Estado e
da Presidência, Mariana Vieira da Silva.
A Sr.ª Ministra de Estado e da Presidência (Mariana Vieira da Silva): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs.
Deputados, Sr.ª Deputada Elza Pais, para podermos responder a uma crise cujos impactos são piores para as
mulheres do que para os homens, precisamos de três condições que procurarei resumir.
Em primeiro lugar, precisamos de conhecer a realidade e, por isso, desde a primeira hora, o Governo
procurou lançar um conjunto de concursos junto da FCT (Fundação para a Ciência e a Tecnologia) para
podermos acompanhar o modo como a desigualdade de género evolui, nomeadamente em termos do
mercado de trabalho e da violência doméstica. Pedimos ao Instituto Europeu para a Igualdade de Género que
também procurasse preparar uma informação, para esta Presidência, que medisse esse impacto e
conhecemos já os dados no emprego, nas horas trabalhadas e nas maiores dificuldades com a conciliação.
Publicamos, mensalmente, os dados dos apoios desagregados por sexo. Isso permite-nos ter políticas focadas
na resolução destas desigualdades.
Vou apenas dar um exemplo, já aqui referido, que foi uma correção no apoio à família, quando soubemos
que mais de 80% das pessoas que tinham beneficiado deste apoio eram mulheres, pagando a 100%, quando
haja partilha desse apoio à família, ou majorando os apoios ao emprego, no caso de contratação de pessoas
do sexo sub-representado.
Finalmente, como disse a Sr.ª Deputada, procuramos agir nas dificuldades estruturais. O PRR tem essa
dimensão — da perspetiva de género — muito visível, nomeadamente nas áreas digitais, onde temos de
corrigir uma desigualdade. Se não a corrigirmos agora, estaremos a provocar novas desigualdades salariais
no futuro, novas desigualdades nas pensões no futuro. É importante que toda a formação que está prevista na
área digital corresponda a metas específicas, para que as mulheres possam ter acesso à formação na área
digital, mas também é importante que ajamos junto das raparigas para podermos corrigir estes estereótipos
que as afastam destas áreas, que são, como o Sr. Ministro da Economia acabou de demonstrar, muitíssimo
importantes para a nossa economia no futuro.