26 DE MARÇO DE 2021
49
consideração do Sr. Primeiro-Ministro pelo seu Ministro da Administração Interna que tem ideias que não fazem
nenhum sentido e mais…
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Sr. Deputado, queira terminar.
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Estou mesmo a terminar, Sr. Presidente.
O Sr. Primeiro-Ministro, referindo-se ao Sr. Ministro da Administração Interna, disse que a ideia era perigosa.
É absolutamente extraordinária a forma como o Governo trata esta matéria!
Sr. Presidente, mesmo para concluir: a intenção, sim, a solução, não, ou, pelo menos, temos muitas dúvidas,
resultado: abstenção.
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Sr. Deputado António Filipe, do PCP, faça favor.
O Sr. António Filipe (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados, não vamos acompanhar as propostas aqui
apresentadas por razões diferentes, porque elas também são muito diferentes.
Começando pela proposta do PSD, não consideramos que seja algum atentado à democracia, bem pelo
contrário. Não fazemos nenhum juízo de valor negativo relativamente a essa proposta, mas não a
acompanhamos porque não vemos essa necessidade.
É verdade que, durante muitos anos, fizemos eleições autárquicas em dezembro e daí não veio nenhum mal
ao mundo, nem à democracia. Mas por alguma razão elas passaram para outubro: verificou-se que havia, de
facto, conveniência quanto ao momento da tomada de posse dos órgãos autárquicos e à elaboração dos
orçamentos para o ano seguinte. Ora bem tinha de haver uma razão muito ponderosa para nos fazer agora
voltar atrás e dizer que, ainda que excecionalmente, desta vez, não vai ser em outubro vai ser em dezembro.
De facto, o que já foi dito relativamente à previsibilidade da evolução da situação epidemiológica não
aconselha a que se dê esse passo, porque, na verdade, fizemos eleições presidenciais num contexto que, à
partida, foi mais difícil do que aquele que vamos enfrentar, esperamos nós, no próximo mês de outubro, mas a
questão mais decisiva é que nada nos garante que a situação em outubro seja melhor do que em dezembro, e,
depois, o que é que faríamos? Teríamos de ir adiando sine die? Portanto, não vamos acompanhar a proposta
do PSD.
Relativamente à proposta do PAN, o que nos parece é que ela, de facto, não é realista. Porquê? Para já, as
eleições autárquicas são muito diferentes das eleições presidenciais e legislativas pela simples razão de que há
mais de 3000 boletins de voto diferentes…
O Sr. Pedro Delgado Alves (PS): — Mais de 4000!
O Sr. António Filipe (PCP): — Mais de 4000 diz o Sr. Deputado Pedro Delgado Alves e saberá, certamente,
do que está a falar.
Mas traçado o número de freguesias, numa residência onde estão idosos, não sabemos em que freguesias
é que eles votam e votam em muitas, não são obrigados a ser todos da mesma freguesia e como é que isso se
resolve? Não se resolve! E por isso é que nas eleições autárquicas não pode haver voto antecipado em
mobilidade como há nas presidenciais e como há nas legislativas. Não é possível, de todo, haver um voto
antecipado em mobilidade, portanto, há aqui um equívoco.
Depois o que o projeto do PAN propõe é que haja um alargamento da possibilidade que foi dada, a título
excecional, aos eleitores em confinamento profilático de se ir recolher o voto no local do domicílio ou no local
onde estão, isto se estiverem numa residência. No entanto, propõem que isso seja alargado a todas as pessoas
com mais de 70 anos. Basta ir aos censos para verificar que estamos a falar de 1 milhão e 700 mil cidadãos.
Então passa pela cabeça de alguém que seja possível ir recolher o voto a casa de 1 milhão e 700 mil cidadãos?
Quem é que faz isso? Como é que é possível? Portanto, é manifestamente irrealista pensar nisso.
Assim, uma coisa é adotarmos um regime semelhante àquele que se adotou nas eleições presidenciais, se
isso for justificado, se a situação epidemiológica se justificar, agora não podemos é pensar que é possível alargar
esse direito e alguém ir buscar os votos a casa de 1 milhão e 700 mil cidadãos que têm esse direito.