I SÉRIE — NÚMERO 52
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O que para nós faz sentido é preparar, desde já, uma decisão, para que o tema não seja tratado, mais uma
vez, como nas últimas presidenciais, em cima do joelho. Isto significa definir uma data-limite para tomar a
decisão, em função da antecedência necessária, para que todos os envolvidos se possam organizar, bem como
acordar, desde já, um conjunto de critérios epidemiológicos que suportem a decisão.
Defendemos ainda que se discuta, com urgência, a criação de condições de segurança e confiança no
sistema eleitoral, para que se generalize o voto antecipado em mobilidade e a possibilidade de o ato eleitoral
ocorrer em dois dias.
Com isto, aumenta-se a segurança sanitária de quem vai votar, ao mesmo tempo que se promove uma maior
participação dos portugueses nas eleições.
Por isso, o Iniciativa Liberal irá votar favoravelmente a proposta do PAN e confirma que deu entrada, há
poucos minutos, a sua própria proposta de revisão das leis que regulam as várias eleições. Já é tempo de as
modernizar, de as harmonizar e de as tornar um fator de promoção da democracia. E não é preciso um dia de
reflexão para concordar com isto.
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Tem, agora, a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado José
Maria Cardoso, do Bloco de Esquerda.
O Sr. José Maria Cardoso (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O Projeto de Lei n.º 676/XIV/2.ª
(PSD) propõe, excecionalmente e a título temporário, por força da pandemia, o adiamento das eleições
autárquicas por um período de 60 dias.
O Bloco de Esquerda é sensível a alguns dos argumentos invocados na exposição de motivos. Na verdade,
uma campanha eleitoral para as autárquicas tem uma dinâmica muito própria e estende-se por situações muito
diversificadas, muitas das quais com a necessidade de um contacto permanente com as populações. Tome-se
como exemplo as campanhas eleitorais para a grande maioria das freguesias.
Não é lícito dizer-se que também se fez campanha para as presidenciais. Na verdade, o universo eleitoral, o
modo de funcionamento e a cobertura informativa nada têm a ver. Já é mais aceitável comparar com as eleições
regionais nos Açores, onde a campanha teve uma maior proximidade às populações.
No entanto, a nossa discordância é nos objetivos da proposta, quanto à calendarização e à base em que
assenta a fundamentação. Dar-se como razão de adiamento uma data hipotética do alcance da imunização
comunitária, quando é tão imprevisível saber quando tal possa acontecer — ao momento as incertezas do
processo só aumentam as dúvidas de quaisquer metas — não tem base sólida que justifique essa mesma
alteração de data. Por isso, não é um argumento válido.
Depois, estar a adiar as eleições por um prazo de 60 dias, sabendo-se que as eleições serão marcadas entre
22 de setembro e 14 de outubro, é apontar como data hipotética o mês de dezembro. Ora, é precisamente no
inverno que o problema se pode agravar, como é habitual acontecer neste tipo de infeções.
Portanto, o risco que corremos com a alteração de data proposta, em nada resolve o que está em causa e
só aumenta a entropia do habitual calendário eleitoral institucionalizado no País.
É notório e percebe-se que o verdadeiro objetivo do PSD não tem a ver com a data das eleições, mas com
o tempo político do processo orçamental. Por isso, votaremos contra esta proposta.
O Projeto de Lei n.º 696/XIV/2.ª (PAN), grosso modo, alarga as possibilidades de criação de condições para
o uso de voto antecipado, com o qual genericamente concordamos.
Temos já um histórico de eleições anteriores, nomeadamente nas presidenciais, que nos permite considerar
que há caminho feito com resultados positivos. Está criada a expectativa de que é um modelo de votação que
pode e deve ser continuado.
Não queremos dizer com isto que não ocorreram problemas. Obviamente, o processo tem de ser retificado
e melhorado, a muitos níveis. Aliás, fizemos saber ao Sr. Ministro da Administração Interna, aquando das
eleições presidenciais, através do envio de comunicações, a 9 de janeiro, da necessidade de permitir o exercício
do direito de sufrágio aos utentes dos lares de idosos e, a 19 de janeiro, reportámos queixas de impedimentos
vários do exercício desse mesmo direito.
Não percebemos a desistência do voto antecipado para estas eleições, manifestada pelo Sr. Ministro
Eduardo Cabrita. O problema logístico levantado pelas eleições autárquicas, que exige variados boletins de
voto, pode ser resolvido com preparação e com tempo. Estamos a tempo de o fazer, haja vontade política!