9 DE ABRIL DE 2021
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Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Srs. Deputados, terminámos, assim, este ponto da nossa ordem
de trabalhos.
Os seguintes pontos, como os Srs. Deputados sabem, não têm tempos atribuídos, mas cumpre-me anunciá-
los.
Do décimo ponto consta o Projeto de Lei n.º 722/XIV/2.ª (PS, PSD, BE, PCP, CDS-PP, PAN e PEV) —
Alteração à Lei n.º 77/88, de 1 de julho, republicada pela Lei n.º 28/2003, de 30 de julho, e alterada pelas Leis
n.os 13/2010, de 19 de julho, e 55/2010, de 24 de dezembro.
Do décimo primeiro ponto consta a Proposta de Lei n.º 80/XIV/2.ª (GOV) — Inclui novas substâncias
psicoativas na definição de droga.
Do ponto seguinte consta o Projeto de Lei n.º 595/XIV/2.ª (BE e PAN) — Prorrogação da vigência do
Observatório Técnico Independente.
Vamos agora passar ao último ponto da nossa ordem de trabalhos, que consta de votações regimentais.
Em primeiro lugar, temos para votação o Projeto de Voto n.º 525/XIV/2.ª (apresentado pelo BE, pelo PEV,
pelo PAN, pelo PS, pelo PSD, pela Deputada não inscrita Joacine Katar Moreira, pelo PCP, pelo CDS-PP e pela
Deputada não inscrita Cristina Rodrigues) — De pesar pela morte de Maria da Conceição Moita.
Srs. Deputados, peço-vos autorização para eu próprio proceder à respetiva leitura:
«Faleceu, no dia 30 de março, Maria da Conceição Moita, destacada militante católica empenhada na luta
pela liberdade contra a ditadura, pela paz contra a guerra colonial e pela justiça contra as desigualdades.
Nascida em 1937, Maria da Conceição Moita foi uma das cidadãs que mais se destacou no campo católico,
que, a partir dos anos 60, e sob o impulso renovador do Concílio Vaticano II, se afastou do até então indiscutido
apoio da Igreja à ditadura. Como ela própria afirmou, o horizonte por que se bateu, conjuntamente com católicos
como Nuno Teotónio Pereira, Francisco Cordovil, Luís Moita, seu irmão, ou os padres Alberto Neto ou Felicidade
Alves, entre muitos outros, era o de ‘uma Igreja mais aberta e mais atenta aos problemas do tempo, ao serviço
das pessoas e do mundo, não uma Igreja fechada e aliada do regime político’. E acrescentou: ‘Fomos
percebendo que não chegava que cada um mudasse o seu próprio estilo de vida para haver mudança e que era
fundamental uma implicação clara da parte dos cristãos na luta política’.
Neste contexto de contestação ao salazarismo e à guerra colonial, através de inúmeras ações concretas em
que a intervenção política e a fundamentação evangélica se uniram, Maria da Conceição Moita veio a ser uma
das organizadoras da vigília pela paz da Capela do Rato de 30 de dezembro de 1972, uma das iniciativas mais
emblemáticas levadas a cabo por católicos e por católicas neste âmbito, tendo sido ela que leu a declaração
que convocava a vigília de 48 horas de oração pela paz, assumindo o compromisso de dois dias de jejum
completo, como protesto contra situação de guerra que se vivia em Portugal, em solidariedade com as suas
vítimas e contra a ausência de uma condenação por parte da hierarquia católica.
Foi presa pela PIDE em 6 de dezembro de 1973, torturada, submetida a isolamento prolongado e ficou na
prisão de Caxias até à Revolução de Abril de 1974, sendo, na sua figura frágil, um dos rostos mais fortes da
libertação ocorrida em 26 de abril.
Já na democracia, marcou muitos momentos importantes de participação democrática e esteve presente na
criação e dinamização de movimentos como os ‘Cristãos em Reflexão Permanente’ ou os ‘Cristãos pelo
Socialismo’, como plataformas de consciencialização dos cristãos para a necessidade de se misturarem com
todos os cidadãos e cidadãs para a consolidação da liberdade e a luta contra a injustiça social.
Foi educadora de infância, professora do ensino secundário e da Escola Superior de Educação de Lisboa,
com trabalho destacado na educação de adultos, na animação comunitária e na formação de professores.
Trabalhou no movimento ‘O Ninho’, de acolhimento de prostitutas. Até à sua morte, manteve sempre uma
atividade intensa em iniciativas cidadãs e em movimentos católicos diversos.
Morreu uma mulher de Abril, uma mulher que, sobre a liberdade, escreveu que ‘não a queremos só mais
alguns anos’. Ela, a liberdade, ‘veio para ficar e nós só temos de a defender sempre. É uma condição da
democracia que é o regime que permite viver em comum dignamente’.
A Assembleia da República, reunida em sessão plenária, exprime o seu profundo pesar pela morte da mulher
lutadora e fraterna que foi Maria da Conceição Moita e apresenta à sua família sentidas condolências.»