15 DE ABRIL DE 2021
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Se o Governo escolheu ter um mapa com o R(t) e a incidência por 100 000 habitantes como variáveis
principais para avaliar a evolução do desconfinamento, creio que aquilo que, desde o início, se disse ao País,
no sentido de ser necessário achatar uma curva para que o SNS não falhasse, é a única bitola perante a qual
devemos ter uma resposta.
Ora, essa bitola diz que, felizmente, o País está hoje numa situação que permite desconfinar e, se assim é,
este estado de emergência deve ser o último, pois não o devemos banalizar. A banalização do estado de
emergência é algo que uma democracia não pode aceitar e creio que esse é o repto que, hoje, o Parlamento
também deve deixar, quer ao Sr. Presidente da República, quer ao Governo.
Mas, tendo viabilizado os anteriores estados de emergência, o Bloco de Esquerda fê-lo sempre com um
sentido crítico, porque dizia que o País não poderia ficar para trás perante aquilo que o Governo estava a
executar — e tantas vezes o Governo não soube estar à altura das necessidades do País.
Ainda hoje, a Sr.ª Ministra não escondeu os números que são incontornáveis: o País testa menos do que
deveria testar. Se, hoje, há novas variantes que nos ameaçam o futuro, elas poderiam estar mais contidas, caso
o plano de testagem fosse mais massivo do que aquilo que está a ser implementado.
Sabemos das dificuldades da vacinação e como tantas dessas dificuldades têm sido criadas também por
escolhas políticas, que continuam a deixar aos gigantes das multinacionais farmacêuticas todo o lucro e todo o
poder sobre as patentes.
Quando Portugal está à frente do Conselho da União Europeia, quando Portugal tem uma voz que, no espaço
europeu, pode e deve ser escutada, Portugal falha ao não dizer que as pessoas valem mais do que patentes e
que a vida humana vale muito mais do que o lucro destas multinacionais.
É, por isso, necessário ter uma liderança política dentro do nosso País e à escala europeia, e é isso que era
exigido ao Governo e que o Governo não tem conseguido fazer.
Olhando para outra matéria fundamental, a de não deixar ninguém para trás num período em que a crise
económica e social se vai adensando, percebemos que o Governo não tem feito tudo o que poderia ter feito.
Em vez de centrar a sua atenção na resposta às pessoas, o Governo decidiu fazer uma guerra com o
Parlamento por causa dos apoios sociais, apesar de percebermos que essa guerra era absolutamente
dispensável, um jogo político de que o País não necessitava.
Aliás, o próprio Governo reconheceu isso quando, ainda há dias, enviou para promulgação decretos que
realçam e reforçam aquilo que a própria Assembleia da República acabou por promulgar e que o Governo disse
que não tinha dinheiro para pagar, tendo, por isso, enviado para o Tribunal Constitucional.
Trata-se de jogo político absolutamente desnecessário, num momento em que o País atravessa enormes
dificuldades e em que se há algo que é preciso são os apoios sociais para que a pobreza não aumente e as
desigualdades não atinjam novos máximos.
Desse ponto vista, esteve bem o Parlamento. Olhe o Governo para o Parlamento e aprenda como deve
apoiar quem está a passar tão mal, neste momento de crise.
Termino como comecei: se este estado de emergência é necessário, ele é o último que deve acontecer neste
período. Quanto ao futuro, veremos como é que ele decorre.
Se a situação assim o indicar, poderemos discutir novamente mais estados de emergência, caso o País deles
necessite. Mas, no momento em que estamos a desconfinar, no momento em que os serviços de saúde estão
numa situação francamente melhor do que aquela em que estavam no passado, este pode e deve ser o último
estado de emergência deste período.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, em nome do Grupo Parlamentar do PCP, tem a palavra o Sr.
Deputado João Oliveira.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Srs. Membros do Governo, vacinação, rastreio, testagem e apoios sociais são
os elementos centrais da resposta que é preciso concretizar para ultrapassar o problema sanitário que
continuamos a enfrentar e os graves problemas económicos e sociais que decorrem do confinamento. Essa tem
sido a alternativa que o PCP tem defendido, e continuamos a bater-nos para que ela se concretize.