I SÉRIE — NÚMERO 59
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Ainda há muito por fazer, mas muito de substancial foi conseguido.
Há objetivos sempre insatisfatoriamente cumpridos, como os de melhor justiça, mais igualdade de
oportunidades e forte solidariedade social.
É menos de meio século o que transformou Portugal, o que nos trouxe ao País que somos, ao País
democrático e aberto ao mundo. Um País que exerce hoje a Presidência do Conselho da União Europeia, em
período de ameaças à saúde e à paz no nosso continente, e exerce essa responsabilidade com
reconhecimento e prestígio.
Quero, neste dia, evocar igualmente todas e todos quantos, oriundos de projetos ideológicos tão distantes
e quase incompatíveis, souberam convergir no essencial, elaborando e aprovando o ambicioso programa
social, económico e político que foi a Constituição da República Portuguesa de 1976, cuja entrada em vigor
aconteceu neste dia, há precisamente 45 anos.
Aplausos do PS e da Deputada não inscrita Joacine Katar Moreira.
Uma Constituição que possibilitou uma grande multiplicidade de soluções de governo e, mais do que tudo,
uma Constituição que garantiu estabilidade política.
É essa a prova do tempo a que a Constituição tem sabido resistir. É essa lição, plena de atualidade, e a
experiência histórica da Assembleia Constituinte, que hoje, num quadro de pandemia, quero e devo recordar,
afirmando a importância de todos sermos parte da solução.
Representando a diversidade e a pluralidade da sociedade portuguesa, é nossa obrigação honrar o legado
dos Constituintes e das treze legislaturas que se seguiram, ultrapassando bloqueios e traduzindo em lei as
soluções para os problemas do País e para os muitos, e cada vez mais exigentes, desafios com que nos
deparamos e que teremos ainda pela frente. Só assim seremos capazes de aprofundar a nossa democracia.
Nestes 47 anos Portugal soube transformar-se numa democracia consolidada, num regime estável, no
desenho institucional que a Constituição de 1976 veio consagrar.
Nestes 47 anos alcançámos um Estado social robusto e importantes níveis de progresso social e
económico.
Em 47 anos enfrentámos sucessivas crises financeiras e orçamentais, crises institucionais, crises
migratórias, a crise climática que levará décadas a superar ou a crise pandémica que ainda atravessamos, e,
em todas, a democracia foi fundamental para as enfrentar e superar. Foi tanto o que lográmos alcançar.
O que há 47 anos certamente se esperava é que, hoje, perante todas as ameaças que pairam sobre as
nossas vidas e sobre a nossa vida em sociedade, os representantes democraticamente eleitos das
portuguesas e dos portugueses na Assembleia da República pudessem novamente convergir no que é
estritamente essencial, debatendo, no Parlamento, respostas e soluções concretas aos problemas e às
necessidades concretas do País, honrando a democracia representativa que somos, que sempre soube
superar as crises enormes por que passou, nos limites da Constituição e à luz das regras do Estado de direito.
A experiência de 47 anos de democracia representativa diz-nos que não há nenhuma crise que seja
insuperável pelo Parlamento e pelo nosso sistema político. E confirma-nos, também, que não há democracia
sem Parlamento e que não há Parlamento sem partidos. Democracias robustas têm parlamentos fortes e
partidos que conseguem representar e sintetizar os múltiplos interesses da sociedade, num equilíbrio de
vontades, nomeadamente, entre a da maioria e o respeito pelas minorias. É também nisto que reside a força
da democracia.
Aplausos do PS.
Outro ensinamento que retiramos destes 47 anos é, também, o de que Portugal seria hoje bem diferente
sem o contributo das autarquias locais para a concretização de Abril e da democracia, a elas se devendo
também muito do desenvolvimento que o País conheceu nas últimas décadas.
Aplausos do PS.