26 DE ABRIL DE 2021
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Não podia haver maior contraste entre a alegria, a exigência e a abertura dos liberais e a tristeza, a
resignação e a exclusão da esquerda sectária. Os liberais, com os olhos postos no futuro; a esquerda sectária,
agarrada ao passado.
Logo à tarde, os liberais vão estar na Avenida da Liberdade a celebrar o 25 de Abril com os olhos postos no
futuro de um Portugal melhor.
O Sr. Presidente da Assembleia da República: — Pelo Chega, tem agora a palavra o Sr. Deputado
André Ventura.
Faça favor, Sr. Deputado.
O Sr. André Ventura (CH): — Sr. Presidente da República, Sr. Presidente da Assembleia da República, Sr.
Primeiro-Ministro, Srs. Membros do Governo, Distintos Convidados, Sr.as e Srs. Deputados: Hoje, os cravos
vermelhos deveriam ser substituídos por cravos pretos, porque é o luto da nossa democracia que devíamos
estar a celebrar.
Após 47 anos, celebramos a liberdade, mas, daqui a duas horas, o País fechará todo, de norte a sul —
restaurantes, cafés, bares. Tudo o que devia estar aberto encerrará no dia da liberdade, daqui a duas horas,
no País que menos apoiou negócios, empresários e famílias.
Enquanto, nesta Casa, os portugueses veem a liberdade a ser celebrada, veem também os seus negócios
e as suas vidas, lá fora, a serem encerrados por Governos sem critérios, com medidas absurdas e sem
qualquer sentido para os que estão a sofrer.
Fomos o País da União Europeia que menos apoios deu, mas tínhamos dinheiro para tudo, até para pagar
subvenções vitalícias a políticos que estão presos. Porém, nunca tivemos dinheiro para apoiar aqueles que
sofriam e que continuam a sofrer!
Em 47 anos de Abril, somos um País de enormes contradições, que bate no peito quando morre alguém,
nos Estados Unidos, às mãos da polícia, mas que esquece os idosos que, todos os dias, não têm dinheiro
para pagar consultas e os que morrem às mãos de um sistema de saúde que não funciona.
Se me permite, Sr. Presidente da Assembleia da República, se temos de recordar a guerra colonial,
devíamos também hoje, por vergonha, recordar os milhares de ex-combatentes que continuam a ser
destratados por um Estado, que os trata como bandidos e que esqueceu a sua história.
Somos um País de contradições, que continua a bater com a mão no peito por alguém que morre lá fora,
mas esquece aqueles que, todos os dias, perdem a vida cá dentro, às mãos de um Estado que já não lhes
vale!
Nos 47 anos de Abril, descemos no ranking da corrupção e todos vimos — ninguém pode dizer que não viu
— um tribunal a branquear a corrupção como nunca antes se branqueou, a dizer que dinheiro ilícito nem
sequer tem de ser declarado, que é o mesmo que dizer: «Vocês trabalhem, paguem e os outros, que não
querem fazer nada, continuem a beneficiar!»
É um País de contradições, em que damos tudo a quem não quer fazer nada e continuamos a atolar em
impostos aqueles que trabalham, ao lado de quem devíamos estar, e que sustentam este País.
Descemos no ranking da corrupção, com um Governo que quer cada vez mais controlar a justiça, como
que a branquear os poderosos que corrompem, a atacar os adversários e a perseguir a oposição.
Cá estaremos para resistir, porque, nos 47 anos de Abril, não podemos esquecer uma democracia que se
deteriora, que vai perdendo qualidade. E é de tal maneira que, num jornal desta semana, se dizia que só 10%
acreditam na plena democracia. Grande Abril que nos deram! Grande revolução que nos transmitiram! Ao fim
de 47 anos, temos um País que já não acredita e que já quer muito mais do que aquela manhã de Abril.
Era disso que nos devíamos lembrar! Metade do País acha que, hoje, estamos pior do que antes do 25 de
Abril. Como é possível que a tal gloriosa Revolução dos Cravos, a tal manhã gloriosa que nos deram, afinal,
seja por metade do País ignorada, dizendo que hoje está pior do que estava?
Sr. Presidente da República, Sr. Presidente da Assembleia da República, Sr. Primeiro-Ministro: Portugal foi
ultrapassado por países que entraram na União Europeia em 2004. Em 2004! Nós entrámos em 1986 e eis o
que nos deu Abril: a Eslovénia, a Lituânia, o Chipre e Malta ultrapassaram Portugal em PIB (produto interno
bruto) per capita. A palavra que, hoje, devia estar aqui é «vergonha». Vergonha em sermos ultrapassados por
países que, há poucos anos, nem linha do comboio tinham!