26 DE ABRIL DE 2021
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E foram mais de um milhão as portuguesas e os portugueses que se ocuparam da coisa pública, nas
assembleias de freguesia, nas juntas de freguesias, nas câmaras e nas assembleias municipais, de forma
abnegada, em muitos casos de forma voluntária, batendo-se pela satisfação das necessidades das suas
populações, dos seus territórios, dos seus costumes e tradições.
No ano em que se termina um ciclo autárquico e em que outro se inicia quero aqui deixar uma palavra de
apreço para todos os autarcas do País, que ajudam a construir os consensos necessários ao progresso de
todos quantos representam.
Aplausos do PS e de Deputados do PSD.
Sr. Presidente da República, Minhas Senhoras e Meus Senhores: Foi há 47 anos que, naquela madrugada
extraordinária, Portugal saiu da sombra de 48 anos de opressão.
A Revolução de Abril trouxe-nos inúmeras conquistas, e pese embora ter posto fim ao analfabetismo
brutificante a que, até então, se assistia, não logrou ainda erradicar, em Portugal, as ideias e os valores que
caracterizaram aquele período negro da nossa história, muitos deles adormecidos desde então.
Uma das grandes virtudes da democracia e da liberdade é a de permitir a convivência entre todos os
credos políticos, incluindo os antidemocratas.
Nas redes sociais, os promotores de falsas notícias, de ódio, de desinformação, de calúnias, de mentiras,
contam-se por muitas centenas e atingem, por vezes, milhões de alvos. As caixas de comentários de alguns
órgãos, ditos, de comunicação social são um esgoto a céu aberto.
Esta não é uma realidade apenas nacional, muito pelo contrário. Basta olhar para o que se passa por essa
Europa fora — até mesmo em países tão próximos, como Espanha, França ou Itália — para perceber que este
movimento vai fazendo o seu caminho e, aos poucos, enfraquecendo a democracia, o Estado de direito e a
convicção por valores fundamentais que são os nossos.
Veja-se, também, o que sucedeu nos Estados Unidos da América, com o inconcebível episódio da invasão
do Capitólio, sede do Congresso, apoiada — ou, pelo menos, tolerada — ao mais alto nível.
Onde, na Europa e no mundo, pareciam florescer democracias, estas são ameaçadas, num retrocesso
histórico que nos reaproxima da realidade sombria de um passado onde ninguém deveria querer voltar.
São sinais de regressão, como os identifica o Papa Francisco, que nos alerta para novas formas de
egoísmo e de perda do sentido social, mascaradas por uma suposta defesa dos interesses nacionais.
Não é fácil combater o discurso simplista dos antidemocratas.
Não é fácil combater a desinformação, a mentira, o medo.
Mas sei, no entanto, que a democracia de Abril é suficientemente resiliente para resistir a esta investida e
robusta o suficiente para a combater.
Aplausos do PS.
Nesta batalha, que é a batalha pela nossa sobrevivência enquanto sociedade aberta, tolerante e inclusiva,
cabe-nos, a nós, democratas, um papel fundamental.
É um combate em que todos somos poucos. Um combate em que os partidos democráticos são
fundamentais. São eles parte da muralha que nos deve defender dos avanços da intolerância, da xenofobia e
do ódio. Um combate em que o fortalecimento do Estado de direito e a responsabilização de todos os
protagonistas são absolutamente essenciais. Um combate em que é fundamental uma comunicação social
livre, isenta e credível, capaz de informar sobre factos, com verdade, onde a liberdade de expressão não se
pode confundir com a expressão sem regras, a qual, lançando mão do anonimato, mais não ambiciona que o
insulto, a ofensa e a injúria.
Onde o combate contra o chamado «politicamente correto» muitas vezes esconde o saudosismo pelos
tempos de impunidade da violência doméstica, da supremacia racial, da homofobia, do desprezo pela
dignidade e pela individualidade dos outros.
Aplausos do PS e do BE.