I SÉRIE — NÚMERO 62
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Ora, é exatamente porque temos este objetivo de conferir mais direitos e mais proteção que continuamos a
considerar que a proposta do Partido Socialista nos levanta algumas dúvidas. E achamos importante que este
debate responda a essas dúvidas, a essas questões, a essas críticas.
O PS, já por várias vezes, em intervenções relativas a esta matéria do teletrabalho, tem falado na
necessidade do acordo mútuo. Já hoje, o teletrabalho existe apenas se houver vontade expressa do
trabalhador. Portanto, sendo isto que existe, a pergunta prévia, até porque a expressão que utilizou na sua
intervenção foi «acordo mútuo», é no sentido de saber se o PS quer ou não alterar esta lógica.
A segunda questão tem a ver com o facto de a proposta do PS criar um regime paralelo, não mexendo no
Código do Trabalho, como já aqui referimos. As justificações para isto são várias, como também ouvimos
durante a sua intervenção, no entanto não podemos deixar de perguntar, novamente, porquê esta opção pela
criação de um regime paralelo. É que nos parece que esta opção acaba por não fazer aquilo que é essencial:
é preciso que a lei garanta os patamares de direitos e de responsabilidades, patamares mínimos de proteção,
que poderão não estar assegurados, exatamente por estarmos a falar de um regime paralelo. Com esta
opção, não havendo esta garantia, perguntamos porquê esta escolha. Além disso, há o risco de ser criada
mais confusão relativamente a esta matéria. Ou seja, o que é que acontecerá quando uma norma deste
regime paralelo não bater certo com o Código do Trabalho ou vice-versa? Como é que estas questões se vão
resolver?
Uma outra questão tem a ver com as despesas com o teletrabalho. Na opção que o Bloco de Esquerda
tomou, no seu projeto, somos claros no que toca à sua imperatividade, porque é a única forma — parece-nos
— de ter esse tal patamar comum, mínimo, que proteja todos os trabalhadores neste seu direito. Ao contrário,
a proposta do PS opta por uma solução que implica um acordo com o empregador. Além de não considerar
devidamente, do nosso ponto de vista, a relação desigual entre trabalhador e empregador, voltamos ao
mesmo erro, ou seja, deixa na indefinição uma matéria central do teletrabalho. Perguntamos porquê e se está
ou não o Partido Socialista disponível para alterar esta solução.
Uma outra matéria tem a ver com a criação do novo conceito de tempo de contacto, separado do tempo de
trabalho. Já colocámos esta questão na nossa intervenção inicial, pois parece-nos uma opção perigosa, Srs.
Deputados e Sr.as Deputadas, que pode criar uma armadilha ardilosa, em que fica a ganhar o empregador,
com um suposto tempo de contacto não remunerado. Portanto, afinal, a pergunta é básica: qual é a
justificação do Partido Socialista para esta proposta? É que não nos parece que exista qualquer justificação.
Achamos, aliás, que deve ser totalmente afastada por apresentar um perigo bastante grande.
O Sr. João Paulo Pedrosa (PS): — Já vai ser explicado!
A Sr.ª Isabel Pires (BE): — Em último lugar, Sr.ª Deputada, a proposta do PS permite que muitas destas regras sejam afastadas por acordo, o que, obviamente, lhes vai retirar eficácia. E volto ao início da minha
questão: sem um patamar de efetividade mínima que esteja previsto na lei, não há forma de proteção efetiva
dos teletrabalhadores. E, se olharmos apenas para a proposta do PS e para o que hoje foi aludido nas várias
intervenções que fizemos, tememos que possa ser mesmo esse o objetivo, isto é, fazer passar a ideia de que
se quer mudar e de que se quer regular sem, na prática, mudar nada ou regular nada, de forma efetiva, na lei.
Aliás, numa das últimas partes da sua intervenção, a Sr.ª Deputada disse que onde a lei não impera pode
triunfar o abuso, e isso é mesmo verdade. Então, por que razão não alteram o Código do Trabalho, que é,
efetivamente, a lei que regula estas situações?
A minha última pergunta é esta: perante as opções que foram tomadas na proposta do PS, o que é que
podem, afinal, os teletrabalhadores, os trabalhadores e as trabalhadoras esperar do PS e que resultados é que
podem mesmo esperar desta discussão?
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — Também para pedir esclarecimentos, tem a palavra a Sr.ª Deputada Lina Lopes, do Grupo Parlamentar do PSD.