I SÉRIE — NÚMERO 77
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A exploração intensiva agrícola — e podemos, obviamente, discutir muito sobre ela aqui, mas não com o
tempo que tenho agora para concluir esta resposta — passa-se num perímetro de rega que, salvo erro, na
década de 80, início da década de 90, foi integrado no Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa
Vicentina. E em boa hora o foi, porque há um conjunto de regras ambientais de distanciamento à linha de
costa e de redução de 80% das estufas para 40%. E que resultam de quê? De estar incluída numa área
protegida. Mas nunca deixou de ser — e, embora nunca o tenha dito, por muito que não o diga, continua a sê-
lo — um perímetro de rega.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — É a vez do Grupo Parlamentar do PCP.
Tem a palavra a Sr.ª Deputada Alma Rivera.
A Sr.ª Alma Rivera (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados: Uma vez
mais, o Governo vem à Assembleia da República congratular-se. Mas a realidade não é assim tão
benevolente. Aliás, o Governo faz uma coisa espantosa, que é discursar sobre política ambiental sem falar
propriamente da natureza e da proteção dos ecossistemas. Não deixa de ser admirável para quem se
autointitula de vanguarda na ação climática.
No entanto, Sr. Ministro, a conservação da natureza, a preservação dos recursos naturais e um correto
ordenamento do território são tarefas do Estado — a nossa Constituição não ignora a natureza e o direito ao
ambiente. Mas, como é possível observar, as questões referentes ao ordenamento do território e conservação
da natureza têm sido relegadas para segundo plano, devido a uma visão mercantilista que, de resto, é
sucedânea do Governo PSD/CDS.
É um erro! O Governo pode continuar a substituir tudo o que existe por homólogos elétricos, mas, se não
protege áreas com proteção especial e potenciais soluções baseadas na natureza que já existem, pouco está
a fazer em matéria de alterações climáticas.
Nos últimos 20 anos, Portugal perdeu 47% de cobertura arbórea.
O Sr. Ministro do Ambiente e da Ação Climática: — Perdeu 47%?
A Sr.ª Alma Rivera (PCP): — De acordo com o CNADS (Conselho Nacional do Ambiente e do
Desenvolvimento Sustentável), Portugal tem três quartos dos seus habitats em estado mau ou inadequado e
apenas 21% em estado considerado favorável. Relativamente às espécies protegidas, 62% encontravam-se
em estado mau ou desfavorável.
Perante isto, qual é a sua visão para a conservação da natureza? Que visão para as áreas protegidas? Vão
continuar negligenciadas ou o Governo acompanha a proposta do PCP quando dizemos que é preciso dar
dignidade a estas áreas, com uma nova forma de gestão, mais próxima, em que a cada área protegida de
âmbito nacional corresponda uma unidade orgânica de direção intermédia, com meios afetos à sua missão?
E como quer o Governo fazer conservação da natureza sem valorizar quem dela toma conta,
nomeadamente os vigilantes da natureza, cuja carreira tem de ser regulamentada e valorizada? E o mesmo se
pode dizer dos guardas-florestais.
Mas a incúria, a indiferença é a mesma se olharmos para os recursos hídricos, não obstante os sucessivos
anúncios. Os rios Tinto, Nabão, Alviela, Dão, Ave, Torto, Paiva, Ferreira, Ceira, por aí fora, todos têm em
comum a poluição, a falta de capacidade de fiscalização e, depois, de aplicação das respetivas
consequências.
O Governo diz que é tempo de agir, mas tarda em corrigir o facto de cerca de metade das massas de água
superficiais ter um estado inferior a bom!
Aquilo que importa saber é se o dinheiro que anuncia vai significar mais vigilantes da natureza, vai
significar guarda-rios, se irá dotar estas equipas de meios mais modernos, se vai significar um aumento da
monitorização. Esses são os investimentos verdadeiramente produtivos que falta fazer.