I SÉRIE — NÚMERO 77
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geral, passando um atestado de menoridade aos autarcas, aquilo que tínhamos, no fundo, era um autarca não
eleito e gosto demasiado da democracia para fazer propostas dessas.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — Tem agora a palavra, ainda no tempo do Grupo Parlamentar do PCP, o Sr. Deputado
Duarte Alves.
O Sr. Duarte Alves (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados, Sr. Ministro, farei várias questões sobre
política energética e, em primeiro lugar, sobre soberania energética.
A venda das seis barragens da EDP ao consórcio francês Engie foi um monumental escândalo fiscal, mas
a segmentação da concessão da EDP, pondo em causa a possibilidade de recuperação de uma política
energética soberana, é outro escândalo que poderia e deveria ter sido impedido pelo Governo. Também o
encerramento da refinaria da Galp no Porto significa que vamos ter de passar a importar aquilo que
produzíamos — combustíveis e outros produtos industriais, como betumes, tolueno, xilenos, entre outros —, a
que se acrescenta a venda, pela Galp, da Gás Natural Distribuição, S.A. a quem não tem condições para
operar esse negócio.
Quando Costa e Silva diz — e bem —, na Visão Estratégica para o Plano de Recuperação Económica de
Portugal 2020-2030, que é preciso apostar na produção nacional, talvez não fosse má ideia começar por não
destruir a capacidade produtiva industrial existente e instalada no nosso País, como é o caso da refinaria do
Porto. Quando a EDP e a Galp acumulam lucros e distribuem dividendos, o Governo não faz nada para
impedir o desinvestimento destas empresas em importantes ativos estratégicos para o País e fica cada vez
mais claro que estas empresas são demasiado estratégicas para estarem nas mãos de privados.
Sr. Ministro, sobre o preço da energia, aqui ao lado, em Espanha, o governo interveio perante a subida dos
preços nos mercados grossistas. Em Portugal, continuamos a ter uma das faturas energéticas mais caras da
Europa e não vemos qualquer iniciativa para controlar os preços que se tornam incomportáveis para a maioria
dos portugueses. A ERSE (Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos) já anunciou anteontem um
aumento de 3% nas tarifas reguladas, ou seja, mais 1 € nas faturas mensais. O que justifica isto se a energia
renovável tem uma participação cada vez maior? Vai ou não o Governo travar esta subida que, mais tarde, se
refletirá também nas tarifas dos consumidores que estão fora do mercado não regulado?
Relativamente ao gás, o Governo lançou, em 2019, a medida da botija de gás social com grande alarido,
mas, afinal, chegados a fevereiro de 2021, desistiu da medida e abandonou o projeto-piloto. Ficou o Governo
sem responder ao que foi aprovado em Orçamentos do Estado anteriores, que foi limitar os preços do gás de
botija, aproximando-os dos de Espanha. Quando o vai fazer?
Sr. Ministro, por fim, faço-lhe uma pergunta concreta sobre a energia solar e os painéis fotovoltaicos.
Considera aceitável a atribuição de direitos perpétuos nos pontos de injeção na rede elétrica? Estamos a falar
de uma concessão perpétua? Sim ou não? Estes pontos de injeção podem ser, depois, usados para outras
fontes de energia em vez de fontes de energia solar?
O Sr. Presidente: — Já ultrapassou o seu tempo, Sr. Deputado.
O Sr. Duarte Alves (PCP): — Por último, o Governo pediu que se avaliasse a legalidade e a
constitucionalidade da decisão de atribuir direitos perpétuos sobre os pontos de injeção na rede elétrica?
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para responder, o Sr. Ministro do Ambiente e da Ação Climática.
O Sr. Ministro do Ambiente e da Ação Climática: — Sr. Presidente, Sr. Deputado, começando pelo fim,
não há nenhuma concessão na eletricidade. É, de facto, uma ligação à rede, que é uma licença e que, no
domínio da energia, tal como todas as que conheço, é perpétua. O que posso dizer — insistindo em que não é
concessão alguma, porque, objetivamente, não o é — é que os preços que conseguimos, muitíssimo inferiores