I SÉRIE — NÚMERO 77
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A minha primeira pergunta é no sentido de saber se isso aconteceu e, se não aconteceu, para quando é
que está previsto. Mais importante: quando acontecer, a que objetivos e metas vamos ficar comprometidos e
como é que sabemos que faz sentido que sejam essas metas e esses objetivos a que temos de estar
comprometidos e que investimentos vão estar por trás?
Como é que se podem comparar as medidas que vamos adotar nesse contexto com outras que fossem
alternativas. Onde é que estão essas análises — que eu não encontro em lado nenhum — que nos permitam
comparar os efeitos, os impactos daquilo que se está a investir, daquilo que se está a conseguir, seja matéria
meramente de emissões, seja de custos ou benefícios financeiros, seja de outros benefícios menos
quantificáveis, mas reais.
Portanto, na prática, como é que os portugueses podem ter a certeza de que, em matéria ambiental, o seu
dinheiro está a ser bem aplicado, da forma mais racional possível e não em função dos tais alarmismos do
momento?
Falando de racionalidade económica e de investimentos, há um tema também que é muito específico, mas
que acho que ilustra bem esta dificuldade, que é: como é que se pode justificar, em termos de racionalidade,
investir mais de 500 milhões de euros na extensão da linha vermelha ou no encerramento da linha verde, a
chamada linha circular do metro de Lisboa e como é que posso comparar isto com investimentos alternativos
que pudessem ser feitos, se calhar, em várias zonas do País, com impactos do ponto de vista ambiental?
O Sr. Presidente (António Filipe): — Queira concluir, Sr. Deputado.
O Sr. João Cotrim de Figueiredo (IL): — Portanto, onde é que estão as análises e como é que o
Parlamento, todos os partidos e todos cidadãos podem olhar para os problemas e comparar o mérito das
medidas que são adotadas?
O Sr. Presidente (António Filipe): — Para responder, tem a palavra o Sr. Ministro do Ambiente e da Ação
Climática.
O Sr. Ministro do Ambiente e da Ação Climática: — Sr. Presidente, Sr. Deputado, começando pelas
partes mais diretas, sim, a Europa entregou a sua NDC e a meta é conhecida: uma redução de, pelo menos,
55% das emissões até 2030. Havia uma meta de menos de 40%, que é aquela que consta de Paris, que foi o
acordo possível na altura e que cresceu — e ainda bem — para menos 55%, porque essa é a necessidade de
redução de emissões que levará a que a Europa seja um continente neutro em emissões em 2050.
Sim, houve uma avaliação de impacto promovida pela Comissão — avaliação de impacto no sentido em
que referiu, exatamente. Não é avaliação de impacto ambiental, é quais são as consequências e as
transformações da sociedade e da economia em função desta mesma meta. Por isso também, no debate que
conduziu ao formato final da lei do clima, que repetiu e que incorporou esta meta da INDC, houve uma
discussão tão grande, porque o Parlamento Europeu queria 60% de redução até 2030. Vou ser rigoroso: quem
negociava em nome do Parlamento Europeu queria essa redução de 60% e uma das razões, muito
consistente, para não se poder ir mais além — independentemente da minha vontade, que aqui interessa
pouco ou interessa pouco neste momento — era a de que nós não tínhamos nenhuma avaliação de impacto
sobre o que poderia acontecer se passássemos de uma meta de 55% para 60%. Por isso, esta é mesmo uma
meta que foi calculada e desenhada com todo o cuidado.
Sr. Deputado, se há área em que — sendo sempre impossível fazer previsões — é mesmo possível
consultar o que pode acontecer em face do nosso objetivo, entre agora e 2050, é mesmo a área da mitigação
da redução das emissões com um Roteiro para a Neutralidade Carbónica.
Pode-me estar a faltar alguma coisa, Sr. Deputado, mas eu não conheço nenhuma área em que seja tão
evidente a avaliação económica dos três cenários que foram construídos para a neutralidade carbónica até
2050. De forma completamente independente e como muitos professores universitários também pertencem a
associações ambientalistas, chegou-se à conclusão de que o cenário em que é mais garantida a neutralidade
carbónica é aquele em que a economia mais cresce. Ou seja, é aquele em que até se consome mais energia
— obviamente toda ela produzida por fontes renováveis —, em que há mais mobilidade, obviamente com
emissões zero. Por outras palavras, é aquela em que a economia mais cresce e em que implica um