24 DE JUNHO DE 2021
15
O Sr. Carlos Peixoto (PSD): — Sr. Presidente, Sr. Deputado João Oliveira, muito obrigado pela questão que me colocou.
Tenho aqui as iniciativas que entraram na X Legislatura e vejo, de facto, o Projeto de Lei n.º 360/X/2.ª, do
PCP, que não só não tinha o alcance que tinha o Projeto de Lei n.º 374/X/2.ª, do PSD, como não tem sequer o
mesmo título.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Tem de ler mais do que o título!
O Sr. Carlos Peixoto (PSD): — É que o PCP apenas deu, como título, a este projeto «Medidas legais de combate à corrupção e à criminalidade económica e financeira». O título do projeto do PSD era «Crime de
enriquecimento ilícito».
Mas, Sr. Deputado, não é isso que verdadeiramente interessa. Não estamos nessa competição para saber
quem é que veio primeiro.
Vozes do PCP: — Ah!…
O Sr. Carlos Peixoto (PSD): — Não estamos e nunca estivemos. Estamos, talvez, mais preocupados em perceber quem é que foi coerente e quem é que o não foi.
É o PCP que tem de explicar por que razão, ao longo destes anos todos, votou sempre ao lado do PSD
quando o PSD propôs o crime de enriquecimento ilícito e, quando passou a estar na geringonça, ou quando a
geringonça estava à beira dos seus olhos, inverteu, deu uma cambalhota,…
O Sr. João Oliveira (PCP): — Isso não é verdade!
O Sr. Carlos Peixoto (PSD): — … e passou a votar contra aquilo que o PSD propôs. Isso é que o senhor tem de explicar!
Portanto, não era uma pergunta que o senhor tinha de me fazer a mim, eu é que faço ao Sr. Deputado
João Oliveira a seguinte pergunta: porque é que o PCP mudou de posição quando passou da oposição para
muleta do Governo?
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado José Luís Ferreira, do PEV.
O Sr. José Luís Ferreira (PEV): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Os Verdes consideram que o combate à corrupção é um combate que se impõe por motivos e imperativos éticos e também para melhorar a
nossa vivência democrática e credibilizar as nossas instituições.
É um combate na defesa e na afirmação de uma cultura de responsabilidade, na qual, a nosso ver, ganha
uma importância decisiva a necessidade da criação do crime de enriquecimento injustificado e ocultação de
riqueza.
Bem sabemos que a criação deste tipo criminal não será, certamente, a solução para acabar com a
corrupção, mas assumirá uma importância decisiva para o sucesso no seu combate, porque, de facto, a
impunidade a que os cidadãos tantas vezes vão assistindo perante o enriquecimento estranho de pessoas que
exercem funções públicas não fragiliza apenas a ideia de justiça, acaba por desacreditar também o conjunto
das instituições democráticas, criando fortes desconfianças sobre o seu funcionamento.
Mas, na perspetiva de Os Verdes, a solução a encontrar para quem pretende, de facto, um combate efetivo
e sério à corrupção terá de ser construída de forma a não deixar quaisquer dúvidas relativamente ao respeito
pelas garantias constitucionais, tanto ao nível penal como ao nível processual-penal, desde logo quanto à
presunção de inocência e tudo o que ela pressupõe, nomeadamente as matérias relativas ao ónus da prova.
Como todos estamos lembrados, a discussão que hoje fazemos não é nova. Já por várias vezes se
procurou legislar com o objetivo de criminalizar o enriquecimento injustificado, ainda que sem sucesso, ou