24 DE JUNHO DE 2021
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Em 2015, o PSD, insistente, voltou à carga. Nessa altura, o Partido Socialista já foi acompanhado por
aquela que viria a ser a geringonça, que se viria a constituir um pouco depois, e a tal geringonça votou contra
a nossa proposta de criação do crime de enriquecimento ilícito.
O Partido Socialista dirá, em resposta a isto, que o Tribunal Constitucional vetou a lei do enriquecimento
ilícito. É verdade! É verdade, mas isso não é tudo!
Vozes do PS: — Oh!…
O Sr. Carlos Peixoto (PSD): — Sabem porquê, Srs. Deputados? Porque, nos últimos 14 anos, o PS foi Governo durante 10 anos e, no Governo, o PS podia ter encontrado uma alternativa à lei do enriquecimento
ilícito que o Tribunal Constitucional chumbou, mas nunca veio com essa alternativa.
Aliás, o Governo até excluiu o enriquecimento ilícito desta estratégia recente que aprovou de combate à
corrupção e só apresentou agora uma proposta — esta é que é a verdade — porque percebeu que ficava só e
mal acompanhado. Percebeu-o, portanto veio logo a correr apresentar essa proposta, ao fim de 14 ou 15 anos
de luta do PSD.
Por que razão narro esta história toda? É para dizer a esta Câmara que o PSD está neste debate com uma
enorme autoridade, com uma vontade imensa de discutir esta questão, e está a fazê-lo de cabeça levantada e
de cara lavada. Não tem problema nenhum relativamente a isso.
Aplausos do PSD.
Protestos do PS.
Não ignoramos, como é evidente, os argumentos que conduziram aos chumbos do Tribunal Constitucional
e, por isso, apresentámos um projeto que entendemos ser prudente e cauteloso.
Daqui a dois dias, é verdade, na sexta-feira, vamos debater todos os projetos com maior detalhe, mas há
uma coisa que, desde já, pode ser adiantada e que é absolutamente irrefutável: o PSD optou por apresentar
um projeto que tem um efeito pedagógico importante e que tem um potencial dissuasor que me parece que o
distingue dos outros projetos. É que o projeto do PSD obriga a que se faça uma comunicação obrigatória ao
Ministério Público no caso de o titular do cargo político ou do cargo público não querer justificar a proveniência
da sua variação patrimonial.
Todos percebem que basta esta comunicação ao Ministério Público para desviar qualquer candidato de
qualquer tentação de não fazer a justificação destes rendimentos, porque só um kamikaze é que não
apresenta a justificação, sabendo que, a seguir, é investigado pelo Ministério Público e é logo rotulado, na
praça pública, de criminoso.
Às vezes, com pequenos passos, arranjamos grandes soluções. Talvez o PSD, com este projeto, consiga
encontrar, do ponto de vista psicológico, sociológico, do exemplo, do dever ser, a solução mais adequada —
não é preciso ser muito musculada, mas adequada — para purificar e higienizar a vida pública e a vida
democrática.
O que queremos dizer é que, mais tarde ou mais cedo, a lei vai ser aprovada. Já sabemos isso. Não há um
único partido que não tenha apresentado a sua proposta, portanto, embora os pormenores estejam no detalhe
— e é em sede de especialidade que vamos ver se isto passa ou não passa —, a verdade é que há um
interesse do País para que a redação a aprovar seja, em primeiro lugar, eficaz e, em segundo lugar, que tenha
conformidade constitucional.
Por isso, sinceramente, parece-nos que ninguém deve adotar posições inflexíveis, dogmáticas
relativamente a esta matéria e que todos deverão estar abertos — entendemo-lo assim — a encontrar
consensos na fase da discussão em sede de especialidade, que se seguirá.
É mais uma lei, não há dúvida nenhuma sobre isso, e não nos podemos livrar das leis. Mas, Srs.
Deputados, penso que todos concordarão com isto: o que faz falta ao País não são tanto leis nesta matéria; o
que faz falta ao País e à justiça são os seus agentes, são meios, são instrumentos e são recursos. E aí — não
me levem a mal — o Governo tem marcado passo, tem parado no tempo. Reparem que, há dois anos,
aprovou a criação da entidade da transparência e ainda não foi capaz, em dois anos, de a criar e de a instituir.